terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Processos erosivos.

PROCESSOS EXÓGENOS

A curiosidade maior dos alunos, que eu - inclusive - acredito ser mais pela sua denominação, sempre incide no que seja uma voçoroca. E, por mais que eu expliquei o seu processo evolutivo, seja oralmente ou por desenho esquemático no quadro desde o desenvolvimento inicial na forma de sulco, passando por ravinamento até alcançar o nível de voçoramento, a compreensão nem sempre é alcançada facilmente. 

Em decorrência disso, optei por publicar as imagens pertinentes a diversos processos erosivos (erosão e transporte) neste espaço para melhor visualização e compreensão destes, mas ressalto que todos têm em comum a água pluvial (das chuvas) como agente erosivo.

O escoamento superficial quando passa a ser concentrado deixa marcas visíveis no solo, as quais chamamos de sulcos. Estas são bem visíveis na paisagem. Com a incidência das chuvas, a água vai escavando e aprofundando mais, ainda, os sulcos, evoluindo para a formação de ravinas. A continuidade do ravinamento, com o incisão maior da água no solo pode chegar ao ponto de alcançar o lençol freático e, daí, o processo erosivo ganha maior força, agindo da "jusante para a montante" (de baixo para cima), formando a voçoroca.   

Em todas as imagens cito as fontes.


Imagem extraída do Dicionário Geológico-Geomorfológico
(GUERRA, Antonio Teixeira, 1987, pag. 349, RJ)



Deslizamento do solo com a remoção de parte da estrada
Desenho obtido da Cartilha Geologia: A Ciência da Terra
XXXIII Congresso Brasileiro de Geologia (SBG/UFRJ, 1984) 




Escoamento superficial (Bairro Pilar, Duque de Caxias, RJ)

Ravinas e Voçorocas em formação
Município de Vassouras 

A tecnologia mórbida da alimentação.



O que comemos é o que vamos ser. O nosso organismo precisa de nutrientes para se manter saudável, mas no mundo atual, a alimentação segue o mercado: O LUCRO.

Independente do que possa ocorrer nas pessoas, com a tecnologia dos aditivos que são colocados nos alimentos, estamos na realidade, nos envenenando, muitas vezes (ou na maioria das vezes) sem saber.

A OMS informa que 2,8 milhões de pessoas morrem em consequências de doenças associadas ao sobrepeso. E outras 2,2 milhões morrem por intoxicações alimentares.

Neste artigo extraido do site Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22808), escrito por Najar Tubino, temos uma noção do que ingerimos diariamente para não somente nos alimentarmos mas, principalmete, alimentar esta lucrativa indústria:

A indústria da alimentação deverá faturar em 2014 US$5,9 trilhões, segundo estimativa da agência britânica dedicada à pesquisa sobre consumo e marcas – The Future Laboratory. O mercado global de snacks (bolinhos, biscoitos, salgadinhos) deverá movimentar US$334 bilhões. As vendas de chocolates e confeitos vão faturar US$170 bilhões. O Brasil consumiu em 2012, 11,3 bilhões de litros de coca-cola, empresa que faturou US$48,02 bilhões, e lucrou US$ 9bilhões. Na pesquisa do IBGE comparando 2002-2003 com 2008-2009, o consumo anual de arroz das famílias caiu 40,5% - de 24,5kg para 14,6kg- e o de feijão caiu 26,4% - de 12,4 para 9,1kg. Os refrigerantes do tipo cola cresceram 39,3% de 9,l litros para 12,7 litros.

No Brasil, 48,5% da população está acima do peso, são 94 milhões de pessoas. Entre as crianças de 5 a 9 anos o aumento da obesidade multiplicou por quatro nos meninos (de 4,1% para 16,6%) e por cinco entra as meninas – de 2,4% para 11,8%. Uma em cada 10 crianças abaixo dos seis anos já apresenta sobrepeso. Nos Estados Unidos 35,7% da população, ou seja, mais de 135 milhões de pessoas são obesas, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) – 17% são jovens. No mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde o número já atinge 1,5 bilhão de pessoas. Na China, o índice de obesidade duplicou nos últimos 15 anos, na Índia subiu 20%. No Brasil, segundo um estudo da Universidade de Brasília, o SUS paga R$488 milhões por ano para tratar doenças ligadas ao aumento do peso.
Moderno doentio

As causas citadas para explicar esta tragédia humana estão associadas à mudança tecnológica, ao estilo de vida das metrópoles, aos hábitos sedentários, a questão prática da vida atual, não deixa tempo para cozinhar, comer em casa, entre outras tantas. É óbvio que a alimentação está no centro desse problema, que há muito tempo deixou de ter uma abordagem cultural, e precisa ser encarado como uma mudança social, política e econômica. Henry Kissinger, figura famosa na política mundial, dizia que quem domina a comida domina as pessoas. Não incluíram no pacote as doenças crônicas resultantes do tipo de comida difundida pelo mundo como algo “moderno”, como o hambúrguer e o refrigerante cola – diabetes em adultos, cardiovasculares, câncer e hipertensão, apenas para citar as campeãs nas estatísticas. A OMS informa que 2,8 milhões de pessoas morrem em consequências de doenças associadas ao sobrepeso. E outras 2,2 milhões morrem por intoxicações alimentares, resultante de contaminações de vírus, bactérias, micro-organismos patogênicos e resíduos químicos.

Neste capítulo específico a história é longa. Um dossiê da Autoridade de Segurança Alimentar e Econômica, de Portugal, usando os dados da União Europeia, contabiliza 100 mil compostos químicos usados correntemente no mundo. Na União Europeia eles registram 30 mil, produzidos a uma média de uma tonelada por ano, sendo que a metade tem potenciais efeitos adversos à saúde.

Mentira consistente. O problema é que a comida moderna, saborosa, suculenta, cheirosa vendida pela publicidade no mundo inteiro é uma mentira. Todos os aspectos citados, incluindo ainda a cor, o tempo de vida na prateleira, a viscosidade, o brilho, o sabor adocicado, ou então o salgadinho bem sequinho, todos são resultado da aplicação de uma lista quase interminável de aditivos químicos. Inclusive registrada internacionalmente por códigos numerados e divulgada pelo Codex Alimentarius, da ONU. Por exemplo, o conservante nitrito de sódio é o E-250 e o adoçante artificial acessulfamo-K é o E-950. 

Antes de avançar no assunto, um alerta da ONU sobre o uso de componentes químicos na vida moderna:

“- O sistema endócrino regula a liberação de certos hormônios que são essenciais para as funções como crescimento, metabolismo e desenvolvimento. Os CDAs, desreguladores endócrinos, podem alterar essas funções aumentando o risco de efeitos advesos à saúde. Os CDAs podem entrar no meio ambiente através de descargas industriais e urbanas, escoamento agrícola e da queima e liberação de resíduos.Alguns CDAs ocorrem naturalmente, enquanto as variedades sintéticas podem ser encontradas em agrotóxicos, produtos eletrônicos, produtos de higiene pessoal e cosméticos. Eles também podem ser encontrados como aditivos ou contaminantes em alimentos”.

Prático e baratoO problema é que a indústria se interessa por custo/benefício. Os aditivos dão consistência aos alimentos, não deixam a mostarda e a maionese virar uma gororoba, a carne e os produtos curados, como salsichas, mortadela, salames, perderam a cor vermelho-rosada. Os sorvetes não ficam com espuma, as sopas e caldos tem um cheiro maravilhoso. Fiquei enjoado de tanto ler sobre aditivos químicos nos últimos tempos. O mais impressionante, dos mais de 40 trabalhos que repassei, é a declaração da supervisora de marketing, da Química Anastácio (SP), para a revista Química e Derivados:

“- O nitrito de sódio é o principal aditivo usado em produtos cárneos, é o agente conservante de todos os produtos curados, promove a coloração vermelho-rosada nas curas e nos crus e o róseo avermelhado nos cozidos, além do sabor característico. Realmente esses produtos são considerados carcinogênicos, porém os grandes frigoríficos os utilizam pelo fato de não ter substituto no mercado. Mas devem ser usados com responsabilidade, respeitando os limites máximos de 0,015g por 100g e 0,03g por 100g, nos casos do nitrito e nitrato de sódio”, disse Alessandra Fernandes Guera.

A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (PROTESTE) tem trabalhos que mostram a capacidade dos nitritos e nitratos de sódio de reagir com certas substâncias presentes nos alimentos, que são as aminas, e se transformam em nitrosaminas, potencialmente cancerígenas.

Danos cerebrais: uma pesquisa de Sandrine Estella Peeters, da COPPE-UFRJ aborda o tema de como os aditivos químicos afetam a saúde. Hiperatividade em crianças, citado como consequência de corantes em alimentos, além de dor de cabeça crônica. Urticária, erupção da pele, câncer em animais, além de riscos de longo prazo de causar danos cerebrais. Este é o caso do glutamato de sódio, muito conhecido nos temperos, mas é utilizado em mais de cinco mil produtos. 

Considerado como um agente capaz de produzir efeito neurotóxico. Em outra pesquisa, da Universidade Cândido Mendes, Roseane Menezes Debatin, tese de mestrado, comenta o seguinte sobre o glutamato de sódio:

“– É um sal composto de uma molécula de ácido glutâmico ligada ao sódio. Tem um sabor adocicado, é um grande estimulante do paladar, suprimindo os gostos desagradáveis, levando a uma maior consumo de produtos industrializados. Usado em caldos, biscoitos, snacks, miojos, batata frita. O ácido glutâmico está envolvido na ativação de uma série de sistemas cerebrais, concernentes à percepção sensorial, memória, habilidade motora e orientação no tempo e espaço. Existem vários trabalhos científicos comprovando a neurotoxicidade do glutamato, principalmente na região do hipotálamo e no sistema ventricular”.

Nos Estados Unidos, o glutamato foi retirado dos alimentos infantis em 1969. A Ajinomoto maior indústria do ramo- 107 fábricas em 23 países - que comercializa o produto informa que o consumo no mundo cresce 5% anualmente.

Lista interminável
Os antioxidantes, usados na conservação, interferem no metabolismo, produzem aumento de cálculos renais, ação tóxica sobre o fígado e reações alérgicas, conforme a pesquisa da COPPE. Os conservantes, como o ácido benzoico, um dos mais usados, produzem irritação da mucosa digestiva, outros produzem irritações nas células que revestem a bexiga, podendo atuar na formação de tumores vesicais. As gorduras hidrogenadas provocam o risco de doenças cardiovasculares e obesidades. E os adoçantes artificiais, substitutos do açúcar, estão relacionados com a diabete, obesidade e o aumento de triglicerídeos (gordura na corrente sanguínea). Sobre os adoçantes, o professor e doutor em ciência de alimentos da Unicamp, Edson Creddio, comenta o seguinte:

“- Os adoçantes são medicamentos que devem ser usados por pessoas com diabetes e hipoglicemia e não por todas as pessoas, inclusive crianças, como se fossem totalmente isentos de risco. Esta substância é vista pelo público leigo como panaceia passada pela mídia com a imagem que levará o usuário a ter um corpo perfeito”.

Os adoçantes artificiais mais usados são a sacarina, que é 500 vezes mais potente que o açúcar, o aspartame, como diz o professor, que é 150 a 200 vezes mais doce, além do ciclamato e o acessulfamo-k, também muito mais doce que o açúcar. Estão presentes nos refrigerantes, bebidas isotônicas, sucos preparados, e demais industrializados.

Sódio em demasia
Fiz uma relação com 14 grupos de aditivos mais usados nos alimentos consumidos atualmente. Os conservantes aumentam o prazo de validade, os estabilizantes mantêm as emulsões homogêneas vamos dizer, os corantes acentuam e intensificam a cor natural para melhorar a aparência e fazer o consumidor acreditar que está levando algo novíssimo. Os antioxidantes evitam a decomposição, os espessantes dão consistência ao alimento e os emulsificantes aumentam a viscosidade do produto. Os agentes quelantes protegem os alimentos de muitas reações enzimáticas e os flavorizantes tem o papel de realçar o odor e o sabor dos alimentos. Já os edulcorantes são usados em substituição ao açúcar e os acidulantes utilizados para acentuar o sabor azedinho do alimento. Os humectantes mantêm a umidade e a maciez, os clarificantes retiram a turbidez, os agentes de brilho mantém a aparência brilhante e os polifosfatos são usados para reter a água, no caso dos congelados, como o frango e nos produtos curados.

No Brasil, a ANVISA desde 2011 negocia com a indústria de alimentos para diminuir a quantidade de sódio dos alimentos industrializados. Não há nem meta nem prazo para chegar a um nível aceitável. Numa pesquisa realizada em 2011, com 496 produtos das regiões nordeste, sudeste e sul foram encontradas entre produtos de diferentes empresas quantidades 10 vezes maiores nos queijos tipo minas frescal, parmesão e ricota. No entanto, as menores diferenças na quantidade usada de sódio entre os mesmos produtos de diferentes empresas chegaram a 40% no caso das mortadelas, macarrão instantâneo e bebidas lácteas. O teor de sódio mais elevado foi registrado no queijo parmesão inteiro e ralado, macarrão instantâneo, mortadela, maionese e biscoito de polvilho.

Informa a ANVISA: o sódio é um constituinte do sal, equivalente a 40% da sua composição, sendo um nutriente de preocupação para a saúde pública, que está diretamente relacionado ao desenvolvimento de doenças como hipertensão, cardiovasculares e renais. Na tabela de informação nutricional dos alimentos, que deve estar no rótulo, consta a quantidade de sódio. Para ser isento não pode ter mais de 5mg por 100g de alimento. Se tiver 40mg na mesma proporção é muito baixo e 120mg é considerado baixo. Na pesquisa da ANVISA o teor médio de sódio do macarrão instantâneo foi de 1.798mg por 100g, da mortadela foi de 1.303mg por 100g e o da maionese 1.096mg por 100g.

Fotos da NASA revelam "luzes estranhas" nas Malvinas.




Uma reunião da NASA em dezembro de 2012 mostrou ao mundo uma das imagens espaciais mais impressionantes já vistas: um mapa de luzes que mostra como é o planeta durante a noite. Após quase um ano estudando a imagem, o ponto de destaque curioso foi a concentração de luz entre a Argentina e as Malvinas. Para surpresa de todos, o local é marcado pela extrema presença de barcos de pesca, o que faz o estranho fenômeno acontecer. (Leia AQUI)


                                             No detalhe é possível ver as "estranhas" concentrações de luz nas Malvinas.

Em comunicado, a própria NASA se mostra surpresa e explica o fenômeno: "Não são assentamentos humanos e não há incêndios ou plataformas de gás no local. Mas há uma enorme quantidade de barco, milhares deles que tem luzes muito potentes para atrair seus alvos para a superfície".

Se algumas pessoas pensaram em "força extraterrestre" ao observas a estranha concentração de luz, a NASA chama a atenção para o problema ambiental que é flagrado neste local: milhares de barcos pescam ilegalmente nas Malvinas, já que o número de luzes excede e muito o número de embarcações legalizadas do local. 



A presença de barcos ilegais coloca em risco o ecossistema local, já que milhares de baleias, focas e pinguins que vivem na região são dependentes de peixes locais para se alimentarem. Com a grande presença de pescadores, a comida fica escassa e diversas espécies estão morrendo no local.

Emissões de gases-estufa no Brasil em 2012 foram as menores em 20 anos.


Sim, pois como para toda a atividade realizada pelo homem existe um impacto, por menor que este seja, não existe o que se insiste em dizer: desenvolvimento sustentável. Isso é uma falácia.

O que se pode fazer é diminuir os impactos causados a natureza e ao ambiente em que vivemos.

Um destes impactos é a emissão de CO² que causam o aumento do Efeito Estufa. Além da queima dos combustíveis fósseis, que são um dos grandes contribuintes para as mudanças climáticas causados pelo aquecimento da temperatura do planeta, o desmatamento é outra grande causa.

Uma boa notícia para nós brasileiros, dá conta que em 2012 (leia AQUI) , o Brasil emitiu a menor quantidade de gases-estufa em 20 anos: 1,48 bilhão de toneladas de carbono equivalente. A redução se deu principalmente devido à diminuição do desmatamento na Amazônia.

No período entre 1990 e 2012, as emissões brasileiras cresceram 7% --bem abaixo da média mundial, que foi de 37%, chegando ao nível recorde de 52 bilhões de toneladas de carbono equivalente.

Os números são de uma iniciativa inédita (AQUI) para estimar a quantidade de gases-estufa emitida no Brasil. Lançado nesta sexta-feira, o SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa) é um esforço do Observatório do Clima, um coletivo de ONGs ligadas ao meio ambiente que se debruçou sobre os dados mais recentes sobre o tema no país.

A redução é benéfica para a Amazônia e para o planeta, pois além da preservação da biodiversidade, também contribui para a diminuir o agravamento do aquecimento global. Sim, porque parar, somente se pararmos com tudo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Pontos culminantes (mais altos) do Brasil.

Pico da Neblina
    O IBGE concluiu, novas medições de sete pontos culminantes (mais altos) brasileiros, em parceria com o Instituto Militar de Engenharia (IME). O trabalho teve como principal objetivo rever as altitudes dos pontos mais elevados do País, utilizando recursos mais modernos e novas tecnologias, como o GPS (Sistema de Posicionamento Global) - sistema de navegação e posicionamento por satélite. A missão do IBGE nesta campanha, da qual participaram um técnico especializado em Geodésia e dois engenheiros-cartógrafos, além dos militares responsáveis pela logística, foi retratar com precisão o território brasileiro.
    Localizam-se no estado do Amazonas o primeiro e o segundo maiores pontos culminantes: Pico da Neblina e Pico 31 de Março. Na terceira colocação, está o Pico da Bandeira, situado no Espírito Santo. Em Minas Gerais, localiza-se o quarto maior ponto culminante, o Pico da Pedra da Mina. O pico das Agulhas Negras está situado no Rio de Janeiro e ocupa a quinta posição. O sexto maior ponto, o Pico do Cristal, encontra-se no estado de Minas Gerais. Na sétima colocação, está o Monte Roraima, que se situa no estado de Roraima.
    Após as novas medições, a suspeita, que já existia, pôde agora ser confirmada pelo IBGE: o Pico da Pedra da Mina, localizado no município de Passa-Quatro, Minas Gerais, é mais elevado do que o Pico das Agulhas Negras, pertencente a Itatiaia, no Rio de Janeiro. Antes de 2004, a última medição dos pontos culminantes havia sido feita na década de sessenta pelo Ministério das Relações Exteriores, através da Primeira Comissão Demarcadora de Limites. Naquela época, utilizou-se o barômetro, instrumento criado no século XVII para indicar a pressão atmosférica, a altitude e prováveis mudanças do tempo.
    NomeLocalidadeEstadoAltitudes Novas(m)**
    1º. Pico da NeblinaSerra ImeriAM2.993,78
    2º. Pico 31 de MarçoSerra ImeriAM2.972,66
    3º. Pico da BandeiraSerra do CaparaóES2.891,98
    4º. Pico da Pedra da MinaSerra da MantiqueiraMG2.798.39
    5º. Pico das Agulhas NegrasSerra do ItatiaiaRJ2.791,55
    6º. Pico do CristalSerra do CaparaóMG2.769,76
    7º. Monte RoraimaSerra do PacaraimaRR2.734,06

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Reflexos no Brasil de terremotos distantes.


REVISTA CH 249 :: JUNHO DE 2008

Artigo analisa abalos sísmicos relatados com freqüência cada vez maior em cidades brasileiras

Moradores de prédios em diversas cidades brasileiras, em especial São Paulo, Brasília e Manaus, têm se assustado, nas últimas décadas, com abalos sísmicos que fazem com que os apartamentos balancem, as janelas trepidem e objetos se movam. Muitos deixam suas residências às pressas, acreditando que está ocorrendo um terremoto.

O fenômeno, na verdade, é conseqüência de terremotos, mas em raros casos estes ocorreram no Brasil. Em geral, o que as pessoas sentem são reflexos de terremotos distantes. Tais reflexos são sentidos desde 1922 nos grandes centros urbanos brasileiros, embora tenha havido um aumento de ocorrências na última década. Usando a sismologia, busca-se compreender como e por que ocorrem os reflexos e o que causou o aumento de sua ocorrência no país.


(foto: Nate Brelsford)

Em 13 de novembro de 2006, o jornal Folha de S. Paulo publicou notícia com o título ‘Reflexos de terremoto na Argentina atingem quatro estados e o DF’. O abalo tinha acontecido, a grande profundidade, na província argentina de Santiago del Estero, e teve magnitude 6.8 na escala Richter. Outra notícia no mesmo jornal, em 16 de agosto do ano passado, dizia: ‘Tremor de terra sentido por moradores de Manaus’. Nesse caso, os manauaras sentiram os reflexos de um forte terremoto (de magnitude 8) ocorrido no Peru, que causou 510 mortes naquele país.

Ultimamente, essas notícias tornaram-se freqüentes, e os ‘tremores’ chegam a assustar a população e até provocam a evacuação de grandes edifícios. No último dia 22 de abril, um tremor de magnitude 5.2, na plataforma continental brasileira, a 215 km da cidade paulista de São Vicente, foi sentido em várias cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Entretanto, muitos dos abalos que assustam moradores de grandes centros urbanos brasileiros são reflexos de terremotos andinos – ocorridos na região da cordilheira dos Andes, a oeste da América do Sul.

O primeiro registro no Brasil de tremores desse tipo, decorrentes da influência andina, ocorreu em 17 de janeiro de 1922, às 3h50 (horário de Greenwich). O terremoto, com profundidade de 650 km e magnitude 7.6, ocorreu no norte do Peru, a 1.300 km de Manaus, onde foram sentidos os reflexos. Desde então, foram registrados reflexos de 51 eventos distantes em cidades brasileiras, com notável aumento dessa ocorrência nos últimos 10 anos nas cidades de São Paulo, Manaus, Curitiba e Brasília. Esse aumento nos deixou curiosos, fazendo com que buscássemos, por meio da sismologia, respostas para esses reflexos no Brasil.

De modo geral, a primeira explicação é a de que qualquer terremoto gera oscilações (ondas sísmicas) que podem, dependendo da energia liberada pelo fenômeno e de fatores geológicos, se propagar na crosta terrestre até longas distâncias. Os prédios mais altos sentem essas ondas sísmicas com maior facilidade.

Quando acontecem terremotos com conseqüências graves (em 1976, na China, cerca de 250 mil pessoas morreram em um desses eventos), surgem dúvidas e questionamentos sobre certas definições tão distantes da nossa realidade. As mais comuns são as seguintes: O que é um terremoto? Por que tantos terremotos ocorrem na costa oeste da América do Sul? Acontecem – ou acontecerão – terremotos com a mesma magnitude no Brasil? O fenômeno tem alguma relação com o aquecimento global? Por que um terremoto tão distante é sentido em cidades brasileiras?


George Sand França
Observatório Sismológico, Universidade de Brasília
Marcelo Assumpção
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas,
Universidade de São Paulo

O mar vai ganhar uma montanha.


Nas últimas duas décadas, os geólogos perceberam que o Mar Mediterrâneo é relativamente recente. Ele nasceu há cerca de 45 milhões de anos em decorrência do afastamento cada vez maior entre a Europa e a África. Este ano, pesquisadores do Laboratório de Geociências Azur, na cidade francesa de Villefranche-sur-Mer, confirmaram a suspeita de que ele já está começando a secar. Há uma cadeia montanhosa brotando no chão do mar e deverá soterrá-lo, no futuro. A bordo do submarino Nautile, os geólogos rastrearam o leito marinho usando sonares. Localizaram fraturas, dobras geológicas e vulcões mortos, alguns com 20 quilômetros de diâmetro. Segundo Jean Mescle, líder da equipe, a cordilheira despontará das águas dentro de 8 milhões ou 10 milhões de anos. "Em Geofísica, a paciência é fundamental", brinca ele.

Revista Superinteressante

sábado, 17 de agosto de 2013

Globo versus Receita: um escândalo dentro do escândalo.

Existe um escândalo dentro escândalo do caso Globo versus Receita Federal.
É a omissão da mídia, dos políticos e do governo. Todos estão se fazendo de mortos, numa cumplicidade mórbida, como se não estivesse ocorrendo nada.
A tarefa de lutar por um Brasil melhor, neste caso, está limitada, até aqui, a esforços épicos de blogues independentes.
Os fatos são espetaculares.
Vejamos: 
A Receita, como primeiro noticiou o blog O Cafezinho, flagrou a Globo numa trapaça fiscal. Documentos vazados por uma fonte da Receita mostram que a Globo tratou a compra dos direitos da Copa de 2002 como se fosse um investimento no exterior para fugir aos impostos brasileiros.Isso se chama sonegação. E sonegação é corrupção.
A empresa se utilizou, na manobra, de um paraíso fiscal, recurso predileto de sonegadores no mundo todo. Não à toa, os governos dos países adiantados decidiram impor um cerco terminal aos paraísos fiscais, porque o dinheiro sonegado destrói a saúde dos cofres públicos e impõe uma injustiça monstruosa à sociedade. 
Em dinheiro de 2006, a Globo devia 615 milhões de reais à Receita. Isso são seis vezes o que a Globo definiu como o maior caso de corrupção da história do Brasil, o Mensalão. Pressionada, a Globo, depois de tergiversar, admitiu que tivera sim problemas com a Receita. Mas jamais mostrou o DARF, o recibo, para comprovar que acertara as contas.
Se o enredo já não fosse sensacional, entrou depois em cena a notícia – confirmada – de que uma funcionária da Receita tentara fazer desaparecer a documentação do caso. Uma história fiscal passou a ser policial também.A funcionária escapou da prisão graças a um habeas corpus de Gilmar Mendes. Para quem ela trabalhara? Teoricamente, basta buscar na lista dos beneficiários de um eventual sumiço. Não são tantos assim.Estranhamente, ou não estranhamente, pensando bem, a mídia corporativa – que tem exércitos de repórteres – não fez o menor esforço para encontrar funcionária e tentar esclarecer um caso de dimensões extraordinárias. Isso atesta a miséria do jornalismo investigativo nacional.Cenas bizarras vão aparecendo: um advogado da Globo disse não se recordar do caso, como se estivesse falando da conta de um restaurante.
Um repórter do UOL entrou no caso, provavelmente sem conhecimento dos donos, extraiu da Globo a admissão da multa e sumiu exatamente no momento em que conseguira mostrar que tinha uma grande história.

O UOL – da Folha, sócia da Globo no jornal Valor – não deu mais nada. O mesmo comportamento teve seu irmão, a Folha, que estampa na primeira página a informação de que é um jornal a serviço do Brasil. Sim, a serviço do Brasil – mas desde que isso não signifique investigar a Globo.
Fora todos os fatos comprovados, há especulações eletrizantes.
Exemplo: a justiça suíça, ao denunciar no ano passado a rede de propinas comandada por João Havelange e Ricardo Teixeira, denunciou a propina milionária paga num paraíso fiscal para Havelange para que garantisse a uma emissora de televisão que a Fifa venderia a ela, e não à concorrência, os direitos da Copa de 2002.
Quanto a Globo ganha com futebol é uma enormidade: em 2012, foram vendidas seis cotas a patrocinadores por 174 milhões cada. Isso dá mais de 1 bilhão de reais. O tamanho do negócio do futebol justificaria qualquer coisa?
Esta é uma das questões que deveriam estar sendo discutidas publicamente, num regime de transparência urgente, dado o torrencial interesse público do caso. Mas não.Há um silêncio abjeto que paira sobre este escândalo – exceto pela luta heroica e solitária dos bravos Davis da internet contra o Golias e seus amigos, ou cúmplices, se você quiser.

Não são os Andes ou Alpes, é a Serra do Tabuleiro em Santa Catarina




Parece uma paisagem distante, mas é bem perto. Com a neve que caiu nestes dias de frio intenso, a Serra do Tabuleiro, em Santa Catarina, ficou parecido uma paisagem de uma estação de esqui...

Muito frio.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Modais de Transportes: Modal Hidroviário




. MODAL HIDROVIÁRIO: também denominado de modal aquático ou aquaviário, este consiste no transporte de pessoas e mercadorias (cargas) por meio de diferentes embarcações (barcos, lanchas, canoas, navios, balsas etc.) através de vias navegáveis, como rios, lagos, lagoas, oceanos e mares.
 
Sendo assim, o transporte hidroviário abrange tanto o transporte fluvial através de rios, lagos e lagoas quanto o transporte marítimo através de mares abertos (ou costeiros) e os oceanos.
 
No entanto, subtende-se - como vias fluviais navegáveis – os rios de planícies, cujo substrato sedimentar lhes conferem o potencial à navegabilidade.
 
Imagem capturada na Internet (Fonte: Mundo das Tribos)
 
Os rios de planaltos, por sua vez, não são favoráveis para navegação, uma vez que o seu substrato é rochoso, com ocorrência de saltos e cachoeiras em seu percurso, o quê impede o seu uso como hidrovia.
 
No entanto, estes últimos apresentam grande potencial para a produção de energia elétrica através da construção de Usinas Hidrelétricas.  
 
Imagem capturada na Internet (Fonte: Aventureiros por Trilhas e Aventuras)
 
Em comparação aos transportes rodoviário e ferroviário, os transportes hidroviários são bem mais baratos, não só em termos de custos, mas também em capacidade de carga e de impacto ambiental. Além de ser ideal para longas distâncias.
 
A variedade de embarcações é muito grande tanto em termos de tamanho quanto em termos de sua finalidade, sobretudo, quando este é direcionado ao comércio internacional.
 
Há vários tipos de navios de grande porte, como, por exemplo:
 
. Navio de carga geral (destinados ao transporte de carga geral, seca);
 
. Navio frigorífico (equipados com maquinários para refrigeração);
 
. Graneleiros (destinados ao transporte de carga sólida e a granel);

. Navio tanque (destina-se ao transporte de carga líquida a granel, com divisões nos porões, podendo variar a carga desde petróleo, produtos químicos, ácidos, entre outros);

. Navio porta-container (especializado para o transporte de containers, abrigando todos os tipos de cargas);

. Navio porta-aviões (navio de guerra cujo papel principal é servir de base aérea móvel);

. Navios porta-barcaças (possuem capacidade para transportar barcaças);

. Navios de passageiros (têm a única finalidade de transportar pessoas, viagens, cruzeiros);

. Navios rebocadores (destinam-se a puxar, empurrar e manobrar todos os tipos de navios, em geral, na zona portuária ou canais de acesso aos portos. Podem socorrer, também, navios em alto-mar ou embarcações encalhadas em bancos de areia).
 
A velocidade dos navios marítimos varia e esta é representada por knots, que equivale a uma milha marítima (1.853 metros).
 
Em termos de carga, o navio pode transportar qualquer tipo de mercadoria, desde matéria prima primária ou commodities (minérios e gêneros agrícolas) a granel a produtos químicos, combustíveis, veículos, entre outros.
 
A partir de meados da década de 60 (Século XX), além de a carga geral ser transportada em caixotes, sacas ou qualquer outro tipo de recipiente, contou-se com o uso de contêiner que veio a facilitar o transporte e a disposição dos mesmos dentro do navio. Além disso, o seu uso oferece segurança em termos de não haver manuseio da carga do seu ponto de partida até o seu destinatário final, exceto em caso de fiscalização.
 
Um grande entrave que pode existir, sobretudo, com o uso de navios de grande porte no comércio internacional diz respeito à infra-estrutura e logística dos portos marítimos, os quais ainda se mostram incipientes no mundo inteiro.
 
Vantagens:
- Possui grande capacidade de cargas e qualquer tipo de carga;
- O custo operacional é muito baixo;
- Transporte de grandes distâncias;
- Apresenta pequeno consumo de energia;
- Baixo custo de manutenção;
- Baixo índice de acidentes, considerado também um dos mais seguros.

Desvantagens:
- A necessidade de transbordo nos portos;
- Maior exigência de embalagens;
- Tempo de transporte mais longo (transporte lento);
- Interferência das condições climáticas;
- Menor flexibilidade nos serviços aliado a frequentes congestionamentos nos portos.

Rio de Janeiro registra - 10°C no Pico das Agulhas Negras

 

  Imagem capturada na Internet (Fonte: OMEP)
 
Todas as vezes que dou aula sobre Clima (um dos conteúdos do 3º Bimestre da 1ª Série do Ensino Médio) e, mais especificamente, sobre fatores climáticos e menciono que a temperatura no estado do Rio de Janeiro já chegou a dez graus negativos e até menos ainda, muitos não acreditaram. Pois bem, a minha expectativa era grande em relação à ocorrência de novos registros de temperaturas negativas no estado já que o inverno chegou no dia 21 de junho.
 
Dito e feito, na mesma localidade do nosso estado onde há sempre registro de temperaturas negativas, nesta época do ano, os termômetros marcaram - na madrugada do último dia 12 (sexta feira) – dez graus negativos (-10°C), tal como já ocorreu em outros anos. Acredito que nestes últimos dias de Julho também.
 
Estou falando do Pico das Agulhas Negras, na Serra de Itatiaia, que faz da Serra da Mantiqueira, na divisa dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Este integra o Parque Nacional do Itatiaia (o mais antigo do país, datado de 1937).
 
Além de ser o pico culminante do estado do Rio de Janeiro, com 2.792 metros de altitude, ele é o quinto mais elevado do Brasil, sendo superado apenas pelo Pico da Neblina (2.993,78 m), Pico 31 de Março (2.992 m), Pico da Bandeira (2.889 m) e Pico do Cristal (2.798 m).
 
Neste caso, o fator climático determinante não é a latitude, uma vez que o nosso estado, assim como a maior parte do território brasileiro, se situa na Zona Tropical ou Intertropical, que corresponde à zona mais quente e úmida do planeta. Trata-se, sim, da influência da altitude, isto é, a altura medida entre um determinado ponto e o nível médio do mar.
 
 Imagem capturada na Internet (Fonte: http://www.geografos.com.br/altitude/)
 
Como o Rio de Janeiro é um estado montanhoso, além do clima tropical, ocorre também o clima de altitude (regiões serranas), onde as temperaturas são mais baixas. Só para se ter uma ideia da forte influência da altitude, o nosso estado já registrou temperaturas baixas de até -13°C, assim como precipitação nival (neve) que chegou a 1 metro de altura, em 1985, no próprio Pico das Agulhas Negras.
 
Não restas dúvida que a precipitação de neve que ocorreu em junho de 1985 foi considerada atípica. Vejam algumas fotos publicadas na Internet, acessando aqui, o Skyscraper City.
 
Com certeza, outros registros de temperaturas negativas ocorrerão ainda nesta estação. É só esperar para ver!
 
Para assistir a reportagem acerca do último registro de temperaturas negativas, clique na edição do BOM DIA, RIO

3 mil cidades jogam lixo em lugar errado


Giovana Girardi - O Estado de S.Paulo

Faltando pouco mais de um ano para o fim do prazo dado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos para o fim dos lixões no Brasil, 3 mil cidades (54% do total), incluindo as capitais Belém e Brasília, ainda enviam resíduos para destinos inadequados. São quase 24 milhões de toneladas despejadas em condições impróprias por ano, o equivalente a 168 estádios do Maracanã lotados de lixo.

Os dados são do ano passado e fazem parte do Panorama dos Resíduos Sólidos produzido anualmente pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza e Resíduos Especiais (Abrelpe).

A 10.ª edição do relatório, que será divulgada hoje, mostra que o cenário apresentou alguma melhora ao longo da década, mas muito lentamente, o que indica que vai ser impossível cumprir a legislação na data prevista. Em agosto de 2014, municípios em condições irregulares podem ser enquadrados na Lei de Crimes Ambientais.

Em 2003, primeiro ano do levantamento, do total de resíduos coletados no País, 59,51% iam para lixões ou aterros sem tratamento de chorume e controle de gases e apenas 40,49% seguiam para aterros sanitários. Em 2012, a proporção se inverteu: 58% tiveram destino adequado e 42%, inadequado.

O problema é que o quadro tem se mantido constante desde 2011. "Pela proximidade do prazo estabelecido pela lei (em 2010), esperávamos ver um avanço, mas a situação se estagnou. Por outro lado, há uma tendência de aumento, ano a ano, do volume de resíduos produzidos pelos brasileiros", afirma Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe.

Geração de resíduos. A produção per capita subiu de 381,6 kg por ano em 2011 para 383 kg por ano no ano passado. Ao longo dos dez anos de levantamento, a geração de resíduos do País cresceu 21%. "Não por coincidência, o PIB per capita também variou 20,8% nesse período. Enquanto a população só cresceu 9,65%. Mais riqueza traz mais consumo de embalagem e também mais desperdício de alimento."

Como vem ocorrendo nos últimos anos, o Estado de São Paulo liderou a geração de resíduos. No ano passado, cada habitante produziu 1,393 kg/dia, contra 1,228 kg/dia no País.
Jornal O Estado de S. Paulo

terça-feira, 2 de julho de 2013

Massa nas ruas, despolitizada, pode servir a interesses alheios


Analistas ouvidos pela Rede Brasil Atual (leia AQUI) interpretam as manifestações que tomaram as ruas das principais cidades do país na semana passada como uma “explosão” de insatisfações cultivadas há anos pelos brasileiros, que, no entanto, está marcada por um nível reduzido de elaboração política. “Quem esteve nos protestos ficou impressionado com a despolitização das pessoas”, avalia o arquiteto Chico Whitaker, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz e conselho internacional do Fórum Social Mundial. “Não sabiam ao certo porquê estavam brigando. Mesmo assim, levantavam as bandeiras que estavam sendo levantadas.”

Whitaker cita a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37 como um dos maiores exemplos de que grande parte dos manifestantes não tinham clareza sobre suas reivindicações. Presente nas manifestações que na última quinta-feira (20) tomaram a Avenida Paulista, em São Paulo, para comemorar a redução da tarifa de transporte público, a RBA entrevistou ao menos três pessoas que traziam cartazes contra a PEC 37, mas admitiram não saber exatamente do que se tratava a medida. “A mídia amplifica essas pautas, fala que é contra a impunidade e a corrupção, e as pessoas vão em frente. Para esse caldo de cultura que está aí, é uma maravilha.”

A jornada de protestos chamou a atenção pela brusca mudança na pauta de reivindicações apresentadas pelos manifestantes. No começo da mobilização, poucas pessoas compareciam às marchas, mas tinham uma demanda única e específica: a redução imediata do preço da passagem de ônibus, trem e metrô. Após a massificação dos protestos, porém, gritos e cartazes se multiplicaram. A partir da insígnia “Não é só por 20 centavos”, as pessoas passaram a exigir melhorias nos serviços de saúde e educação, fim da corrupção e menor carga de impostos, além de denunciar os “elevados” gastos públicos para a realização da Copa do Mundo de 2014. No último dia de manifestações, até mesmo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) ganhou adeptos.

“A mobilização social é como uma Caixa de Pandora: você não tem o controle sobre a situação”, analisa Maria Aparecida de Aquino, professora de História Contemporânea da Universidade de São Paulo. “Uma coisa é dizer que existe um determinado objetivo, que é o objetivo inicial, e outra coisa é chamar as pessoas à participação e de repente observar que essas pessoas não são originalmente aquelas que comungam dos seus meus ideais.” Para Aquino, essa pluralidade não deveria ser uma surpresa: é fruto direto da maneira utilizada pelos organizadores da mobilização para convocar os protestos. "A internet é uma via extremamente poderosa para convocar as pessoas, e atinge a todos indiscriminadamente”, pontua. “Você pode ter uma determinada reivindicação, mas, a partir do momento em que as pessoas vão às ruas, seu controle sobre elas é muito restrito.”

Apesar de considerar as bandeiras de saúde, educação e corrupção como reivindicações “legítimas” que refletem “necessidades históricas do povo brasileiro”, a historiadora da USP desconfia do nível de politização da maioria dos manifestantes. “Eles não possuem uma conscientização política claramente estabelecida”, diz. “Atenderam a um chamado, um desejo, que é quase que intestino.” Aquino faz uma diferença entre a consciência política e aquilo que se denomina consciência da fome – que promove respostas diretas. “O tipo de resposta apresentada pelo movimento é imediata: estamos cansados da bandalheira, estamos cansados de não ter condições de vida adequadas, de vivermos com transporte péssimo, educação de baixa qualidade, corrupção.”

Daí a dificuldade – retoma Whitaker – de compreender o verdadeiro sentido do verde-amarelo com que se vestiu a maioria dos manifestantes. “O verde-amarelo, para a massa despolitizada, representa a pátria. Pode ser um acúmulo de memórias do verde-amarelo do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, mas também é o verde-amarelo dos militares”, questiona. “As cores da bandeira têm sido utilizadas para separar quem é a favor do Brasil e contra o Brasil.” Por isso, o arquiteto teme que essa nova coletividade possa ser utilizada em prol de objetivos amplificados pelos meios de comunicação. “É uma turma pronta para engrossar fileiras contrárias ao PT, por exemplo. O PT é o diabo para muita gente. A mídia pode levantar essa questão e automaticamente os caras se aproveitam.”

quarta-feira, 13 de março de 2013

Eliminar a fome é condição para o desenvolvimento sustentável na África




Nairóbi, Quênia, 16/05/2012

Lançado pelo PNUD, Relatório de Desenvolvimento Humano da África aponta que a segurança alimentar deve estar no centro da agenda de desenvolvimento do continente

PNUD
A África Subsaariana não poderá sustentar o seu atual renascimento econômico sem antes eliminar a fome que afeta cerca de um quarto de sua população. A constatação está no relatório Africa Human Development Report 2012: Towards a Food Secure Future (Relatório de Desenvolvimento Humano para a África 2012: Rumo a um Futuro de Segurança Alimentar), lançado esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
“Impressionantes taxas de crescimento do PIB na África não se traduziram na eliminação da fome e da desnutrição. São necessárias abordagens inclusivas de crescimento que sejam centradas nas pessoas para o alcance da segurança alimentar”, disse a Administradora do PNUD, Helen Clark.
Argumentando que o foco exclusivo na agricultura não é solução para a o problema, o Relatório clama por uma nova abordagem multissetorial: da infraestrutura rural a serviços de saúde, de novas formas de proteção social ao empoderamento de comunidades locais. Garantir que os pobres e vulneráveis tenham mais voz através do fortalecimento de governos locais e da sociedade civil também é necessário à segurança alimentar. O ritmo cada vez mais rápido da mudança e da nova vitalidade econômica do continente faz deste o momento mais oportuno para ação, diz o Relatório.
“É um grande paradoxo o fato de que, em um mundo de excedentes de alimentos, a fome e a mal nutrição permaneçam quase universais num continente com tanta capacidade para a agricultura”, diz Tegegnework Gettu, Diretor do Escritório do PNUD para a África. Em mais um paradoxo, os altos índices de crescimento econômico na África Subsaariana – alguns entre os mais rápidos do mundo – e melhorias na expectativa de vida e nos índices de escolaridade não levaram a melhorias consideráveis na segurança alimentar.
Com mais de um em quatro de seus 856 milhões de habitantes subnutridos, a África Subsaariana continua como a região de maior insegurança alimentar no mundo. Atualmente, mais de 15 milhões de pessoas estão em risco apenas na região do Sahel – em toda a faixa semi-árida do Senegal ao Chade. Além disso, um número equivalente no Chifre da África continua vulnerável após a crise alimentar do ano passado no Djibouti, na Etiópia, no Quênia e na Somália.
A fome e períodos extensos de desnutrição não apenas devastam famílias e comunidades no curto prazo, mas também deixam um legado às futuras gerações que prejudica a subsistência e o desenvolvimento humano.
Segurança alimentar, segundo definição da Cúpula Mundial da Alimentação, é a ideia de que as pessoas possuem acesso a comida nutritiva e suficiente para atender suas necessidades nutricionais para manter uma vida ativa e saudável, e a um preço que elas possam custear.
Livres do flagelo da fome, as pessoas são mais produtivas e atingem seu pleno potencial. Ao mesmo tempo, índices mais altos de desenvolvimento humano podem melhorar o acesso à comida, criando um círculo virtuoso.
Políticas para construção da segurança alimentar
“Construir um futuro de segurança alimentar para todos os africanos só pode ser possível se os esforços forem realizados dentro de uma agenda completa de desenvolvimento”, disse Helen Clark. Embora reconhecendo que não há soluções rápidas, o Relatório argumenta que a segurança alimentar pode ser atingida através de ação imediata em quatro áreas críticas:
Aumento da produtividade da agricultura: Com uma projeção de crescimento da população prevista para exceder dois bilhões por volta de 2050, a África Subsaariana precisará produzir substancialmente mais comida, enquanto minimiza os conflitos entre agricultura e meio ambiente.
Acabando com décadas de preconceitos contra a agricultura e contra as mulheres, os países devem colocar em prática políticas que garantam insumos, infraestrutura e incentivos aos agricultores para que aumentem a produtividade. É particularmente importante encorajar o espírito inovador e empreendedor à crescente população jovem africana para estimular as economias rurais.
Com dois terços de trabalhadores africanos vivendo da terra, as políticas promotoras da produtividade da agricultura estimulariam o crescimento econômico, retirando populações inteiras da pobreza através da geração de renda e de empregos e aumentando as capacidades de poupança e investimento no futuro. Isto também irá possibilitar um uso mais sustentável da terra e da água.
Tais ações podem fazer a diferença. Gana tornou-se o primeiro país da África Subsaariana a atingir o 1º Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de erradicar a fome até 2015, parcialmente através de políticas que encorajaram o aumento da produção de cacau. O Malawi transformou seu déficit alimentar de 1,3 milhão de toneladas num excedente em apenas dois anos, graças a um programa massivo de subsídio de sementes e de fertilizantes.
Nutrição mais efetiva: Os países devem desenvolver intervenções coordenadas que melhorem a nutrição enquanto expandem o acesso a saúde, educação, saneamento e água potável. O relatório cita pesquisas que mostram que a educação das mães é mais importante na explicação de taxas mais baixas de desnutrição em crianças do que a renda familiar.
No Senegal, ações coordenadas desenvolvidas através de diversos ministérios, apoiadas por um aumento no orçamento nacional destinado à nutrição, ajudaram a diminuir a incidência da desnutrição em crianças de 34% para 20% entre 1990 e 2005. Na Tanzânia, por meio de esforços similares, as crianças cujas mães receberam suplementos alimentares nos três primeiros meses de sua gravidez completaram períodos escolares mais longos.
Construção da resiliência: Trazer a comida do campo para a mesa, na África Subsaariana, é uma tarefa repleta de riscos. Os países devem tomar medidas para diminuir a vulnerabilidade de pessoas e comunidades a desastres naturais, conflitos civis, alterações sazonais ou voláteis nos preços dos alimentos e às mudanças climáticas.
O relatório recomenda a implementação de programas de proteção social como seguros sobre colheitas, programas de garantia de emprego e transferências de renda – políticas que podem proteger as pessoas destes riscos e aumentar a renda.
O Quênia, por exemplo, desenvolveu um plano de seguros contra secas que pagava a pequenos agricultores de acordo com os níveis de precipitação apontados por estações de monitoramento climático. Outro exemplo são as feiras comerciais de insumos (input trade fairs) no Moçambique, que repõem estoques de sementes de famílias afetadas pela seca.
Empoderamento e justiça social: Alcançar a segurança alimentar na África Subsaariana continuará um objetivo inatingível enquanto os pobres das áreas rurais, em especial as mulheres, que têm um papel majoritário na produção alimentar, não tiverem maior controle sobre suas vidas, diz o Relatório.
Garantir acesso a terra, a mercados e a informações é um passo importante para o empoderamento. Diminuir a lacuna entre os gêneros é particularmente importante: quando as mulheres conseguem acesso aos mesmos insumos que os homens, as safras podem aumentar mais de 20%.
O acesso à tecnologia pode ter um papel importante para desequilibrar a balança de poder em favor dos pequenos agricultores, reduzindo os custos de transação e aumentando o poder de barganha. A Bolsa de Valores de Commodities da Etiópia (Ethiopia Commodity Exchange), por exemplo, usa mensagens de texto via celular para disseminar informações de preços aos agricultores, recebendo mais de 20 mil ligações diárias em uma linha direta destinada às respostas de suas perguntas.
O acesso deve ser conectado à maior participação no debate público. Esta maior participação, por sua vez, deve ser conectada à maior responsabilidade de governos e organizações.
Por muito tempo, a imagem da África foi desumanizada pela fome. O tempo de mudanças já passou em muito, argumenta o relatório. “A África tem o conhecimento, a tecnologia e os meios para acabar com a fome e com a insegurança alimentar”, diz Tegegnework Gettu. O desafio é grande, o espaço de tempo é curto e os investimentos necessários são significantes, mas os ganhos potenciais para o desenvolvimento humano da região são imensos, conclui o Relatório.

sábado, 2 de março de 2013

Ilhas de Calor



Constatou-se no mundo todo que as temperaturas atmosféricas nas metrópoles tendem a aumentar da periferia urbana para as regiões centrais da cidade, nas quais se formam verdadeiras `ilhas de calor` ou `ilhas térmicas`. A formação de uma ilha de calor ocorre da seguinte maneira: a retirada da cobertura vegetal para a construção de edifícios nas regiões centrais das cidades faz com que haja grande retenção de calor e dificulta a circulação de ar nesses locais locais, provocando aquecimento atmosférico. O ar aquecido do centro cria zonas de baixa pressão, que atraem ventos carregados de poluentes industriais da periferia. Essa acumulação de partículas de material no centro dificulta, então, a reemissão de energia térmica para as camadas atmosféricas mais elevadas, formando a `ilha de calor`.
O conhecimento de ilha de calor é fundamental tanto para o planejamento da construção de habitações adaptadas à situação atmosférica que ela cria como para o próprio replanejamento da expansão metropolitana quanto ao uso do solo, à valorização das áreas verdes e à seleção dos materiais de construção.
fonte: Maurício de Almeida

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A globalização econômica


Valérie de Campos Mello

Professora e Pesquisadora da Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro.

O outro processo de transformação que vem afetando de maneira fundamental as bases das relações internacionais é a globalização econômica acentuada neste final de século. A globalização deve ser entendida como um processo, um padrão histórico de mudança estrutural, mais do que uma transformação política e social já plenamente realizada. Ela é um fenômeno ao mesmo tempo amplo e limitado: amplo, porque ela cobre transformações políticas, econômicas, e culturais ; limitado, porque não se trata de um processo completo e terminado, e ele não afeta a todos da mesma maneira. O processo de globalização é caracterizado pela intensa mudança estrutural da economia internacional, com o peso crescente de transações e conexões organizacionais que ultrapassam a fronteira dos Estados. Os principais componentes dessa mudança são:
i) a globalização da produção e do comércio: a globalização da produção pode ser entendida como a produção de bens e serviços em mais de um país e segundo uma estratégia global de vendas voltada para o mercado mundial . O processo de reestruturação da produção começou nos anos 70, no contexto de crescente competição internacional e inovações tecnológicas, e ele foi acelerado nos anos 80 com a queda nas taxas de crescimento e a recessão que muitos países conheceram. Hoje, nota-se uma mundialização da atividade empresarial, tanto na área industrial como na área de serviços, com o papel crescente das grandes corporações transnacionais (CTNs). O número de CTNS cresceu de 3.500 em 1960 para 40.000 em 1995. 
Houve, também, uma mudança no caráter do comércio. Mais do que uma troca de produtos entre sistemas produtivos domésticos, o comércio hoje é cada vez mais um fluxo de produtos entre redes de produção que são organizadas globalmente e não nacionalmente. As mercadorias são criadas através da integração de processos de produção levados a cabo em uma multiplicidade de territórios nacionais. A inclusão ou exclusão de um território nestas redes de produção depende da decisão de agentes privados. Os Estados podem tentar tornar seus territórios mais atraentes, mas eles não podem ditar a estrutura destas redes de produção global. Hoje, uma grande parcela do comércio internacional, entre 25 e 40 %, é na verdade comércio intrafirma. Quando um bem ou serviço vai de uma a outra filial de CTN, a operação é contabilizada como comércio internacional. Na verdade, trata-se do movimento de uma economia global, na qual existem bens e serviços globais, vendidos no mundo inteiro.
ii) A globalização das finanças: os mercados financeiros globais têm desempenhado um papel importante na construção da estrutura e da dinâmica da emergente ordem político-econômica. Alguns autores acreditam que é na área financeira que a globalização tem sido mais intensa, e que esta é a grande novidade do capitalismo no final do século XX. Desenvolvimentos tecnológicos nas comunicações também ajudaram a globalizar as finanças: hoje, existem moedas globais, bancos globais, assim como um sistema de crédito global. As transações de câmbio cresceram de uma média de US$ 600 bilhões por dia no final dos anos 80 a US$ 1 trilhão por dia em 1993. O volume de transações financeiras vale 40 vezes mais do que o volume de comércio de mercadorias. As finanças se tornaram separadas da produção, e são hoje um poder independente, o que significa a preponderância de interesses financeiros imediatos sobre considerações de desenvolvimento a longo-prazo.
Os mercados financeiros estão adquirindo uma crescente autonomia em relação aos Estados: o capital move-se de um país ao outro em busca do retorno máximo, afetando a capacidade de os Estados administrarem suas economias. O poder de controle dos bancos centrais sobre o valor de suas moedas é reduzido, o que limita a eficácia das políticas monetárias e fiscais dos governos. Com os capitais especulativos, há menos controle sobre taxas de câmbio, e uma maior volatilidade cambial. Fred Block fala da "ditadura dos mercados financeiros internacionais": todo Estado que iniciar uma política julgada inapropriada será punido pela desvalorização de sua moeda e pelo acesso dificultado ao capital. Os recentes acontecimentos na bolsa de valores e seu impacto imediato no Brasil são uma boa demonstração desse fenômeno. Hoje, a globalização financeira tende a promover uma crescente "internacionalização" dos Estados. Para O'Brien, é o "fim da geografia": os movimentos de capital hoje têm uma autonomia geográfica total e não obedecem a critérios nacionais.
iii) Uma mudança no modelo de acumulação e de produção: por fim, o modelo de acumulação e produção evoluiu com a passagem ao "pós-fordismo". O modelo fordista de produção era um sistema de acumulação baseado na produção e no consumo de massa. Ele foi criado nos anos 30 nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo após a Segunda Guerra Mundial. Ele se caracterizava por uma aliança entre o Taylorismo como modo de organizar o trabalho, com uma nítida separação entre os aspectos manuais e intelectuais do trabalho, e, de outro lado, relações contratuais rígidas entre capital e trabalho – contratos de trabalho de duração indeterminada com diversas vantagens, convenções coletivas, legislação de proteção social, e outros mecanismos assegurados pelo Estado de bem-estar social. O sistema fordista foi a base do crescimento do após-guerra, garantindo ganhos de produtividade e aumento nos níveis de vida, o que por sua vez assegurava um alto patamar de consumo e estimulava o crescimento.
Este modelo foi chamado de capitalismo organizado, ou de liberalismo embebido (embedded liberalism): um sistema econômico com relativa liberdade para o capital global estava embebido em um corpo social, de instituições, normas, regulamentações, que comprometiam os Estados industrializados a insular e proteger os seus cidadãos, ao menos parcialmente, do custo de tal sistema. Como vimos, tal ideologia deve muito ao contexto histórico em que foi elaborada: a Segunda Guerra Mundial e seus efeitos devastadores levaram os governos a pensar que uma melhor proteção social de seus cidadãos seria um meio de evitar os traumas políticos das décadas anteriores, assim como de afastar a tentação comunista.
No entanto, tal modelo começa a demonstrar sinais de fraqueza no final dos anos 60, com um declínio no crescimento da produtividade e uma crise na organização do trabalho. Aparece uma contradição entre a globalização da produção e dos mercados e o caráter nacional da regulação do trabalho. Nos anos 80, os sinais de crise estavam presentes: taxas mais lentas de crescimento da produção, diminuição das taxas de produtividade e crescimento do desemprego. O modelo fordista começou a ser considerado excessivamente rígido. Com o movimento em direção a uma economia mais baseada na informação e na tecnologia de ponta, outros modos de organização do trabalho surgem. O Fordismo tende a ser substituído por modelos pós-fordistas, mais "flexíveis", ancorados em informação, serviços e alta tecnologia, com os exemplos notáveis dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
Hoje, estamos nos movendo do que autores chamam de capitalismo organizado, no qual o Estado tinha um grande papel regulador, para um regime de acumulação flexível, no qual as políticas de emprego são flexíveis e toda a ênfase é colocada na competitividade. Este atual modelo tem uma estrutura de produção que segue um modelo centro-periferia: um centro relativamente pequeno de empregados permanentes que são encarregados de tarefas como pesquisa, finanças e organização tecnológica, e uma periferia que compõe o processo de produção e se ajusta às decisões do centro, com um uso constante do trabalho temporário. Tal evolução questiona e ameaça as conquistas dos trabalhadores e as leis sociais elaboradas nos tempos do Estado de bem-estar social, colocando sérios desafios à estabilidade social.
Artigo Completo através do título
Globalização, regionalismo e ordem internacional
Revista Brasileira de Política Internacional