quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cerrado: o grande potencial agrícola do Brasil?





Cerrado: o grande potencial agrícola do Brasil?“Hoje, da porcentagem que naturalmente o Cerrado abrangia, percebemos que, pela ocupação humana, a natureza perdeu cerca de 40 a quase 50% de seu território”, constata José Felipe Ribeiro
Por: Thamiris Magalhães e Graziela Wolfart
“Existe um mito de que o Cerrado é seco. E não é verdade. O que acontece concretamente é que nós temos seis meses de época seca chuvosa. Durante esse período praticamente não cai qualquer chuva e a umidade relativa é extremamente baixa. Então, esse mito de que o Cerrado é seco acontece porque normalmente as pessoas que vêm para a região em junho acabam sofrendo com esta secura do ar. No entanto, na época chuvosa temos praticamente 1.500 mm (1,5 metros) o que é muito, só que é tudo em um período de seis meses (a época chuvosa). Depois, de maio a setembro, a chuva é praticamente zero no bioma”. A explicação é do biólogo José Felipe Ribeiro, em entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line. De forma bem didática, ele descreve o bioma Cerrado em detalhes. E afirma: “por conta da distribuição de chuvas, boa pluviosidade, terrenos praticamente planos, favoráveis para a mecanização, o Cerrado tem contribuído hoje como o local onde praticamente boa parte da agricultura e pecuária nacionais está se desenvolvendo”.

José Felipe Ribeiro possui graduação em Biologia, pela Universidade Estadual de Campinas, mestrado em Ecologia, pela Universidade de Brasília, e doutorado em Ecologia, pela University of California – DAVIS. É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária atuando no momento na Embrapa Cerrados e é professor credenciado no programa de Botânica da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Biodiversidade, atuando principalmente nos seguintes temas: biodiversidade, fitossociologia, florística, propagação e recuperação de ambientes ripários e de Cerrado.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – No que consiste o bioma Cerrado? Quais áreas ele abrange?


José Felipe Ribeiro – O Cerrado está localizado essencialmente no Planalto Central do Brasil e é o segundo maior bioma do país em área, apenas superado pela Floresta Amazônica. Trata-se de um complexo vegetacional que possui relações ecológicas e fisionômicas com outras savanas da América tropical e de outras regiões como África, sudeste da Ásia e Austrália. O Cerrado ocupa mais de 2.000.000 km², o que representa quase 25% do território brasileiro. Ocorre em altitudes que variam de cerca de 300 metros, a exemplo da Baixada Cuiabana (MT), a mais de 1.600 metros, na Chapada dos Veadeiros (GO). No bioma, predominam os Latossolos , tanto em áreas sedimentares como em terrenos cristalinos, ocorrendo ainda solos concrecionários em grandes extensões.
O Cerrado abrange como área contínua os estados de Goiás, Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo, ocorrendo também em áreas disjuntas ao norte nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao sul, em pequenas “ilhas” no Paraná. No território brasileiro, portanto, as disjunções acontecem na Floresta Amazônica, região em que a vegetação tem sido tratada por outros termos ou expressões, como “savanas amazônicas”; na Floresta Atlântica, especialmente na região sudeste, nos estados de São Paulo e Minas Gerais; na Caatinga, como manchas isoladas no Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia; e também no Pantanal, onde se mescla fisionomicamente com esse bioma. Fora do Brasil ocupa áreas na Bolívia e no Paraguai, enquanto paisagens semelhantes são encontradas no norte da América do Sul, como na Venezuela e na Guiana. Com o desenvolvimento da ocupação humana, ele vem sendo ocupado pela agricultura e pelas populações urbanas.

Cerrado além das savanas

É bom deixar claro que o Cerrado é muito mais que savanas, com árvores tortas, como as pessoas normalmente enxergam. Existe uma série de florestas secas no bioma, que possui uma vegetação que não fica na área do rio e sim entre os rios. Depois disso, tem o outro extremo, que são os campos, áreas com solo raso ou as várzeas que acontecem na forma de vegetação campestre. Então, a paisagem do Cerrado tem floresta, savana e os campos. Hoje, da porcentagem que naturalmente o Cerrado abrangia, percebemos que, pela ocupação humana, a natureza perdeu cerca de 40 a quase 50% de seu território.

IHU On-Line – Como pode ser caracterizado o clima no bioma?


José Felipe Ribeiro – O Cerrado caracteriza-se pela presença de invernos secos e verões chuvosos, um clima classificado tecnicamente como Aw de Köppen (tropical chuvoso). Possui média anual de precipitação da ordem de 1.500 mm, variando de 750 quando mais próximo da Caatinga a 2.000 mm, nas cercanias do bioma Amazônico. As chuvas são praticamente concentradas de outubro a março (estação chuvosa), e a temperatura média do mês mais frio é superior a 18°C. O contraste entre as superfícies mais baixas (inferiores a 300 metros), as longas chapadas entre 900 e 1.600 metros e a extensa distribuição em latitude, conferem ao Cerrado uma diversificação térmica bastante grande. Por outro lado, o mecanismo atmosférico geral determina uma marcha estacional de precipitação semelhante em toda a região, criando nela uma tendência de uniformidade pluviométrica: há uma estação seca e outra chuvosa bem definidas.

Mito

Existe um mito de que o Cerrado é seco. E não é verdade. O que acontece concretamente é que nós temos seis meses de época seca chuvosa. Durante esse período praticamente não cai qualquer chuva e a umidade relativa é extremamente baixa. Então, esse mito de que o Cerrado é seco acontece porque normalmente as pessoas que vêm para a região em junho acabam sofrendo com esta secura do ar, apresentando até sangramentos nasais, por exemplo. No entanto, na época chuvosa temos praticamente 1.500 mm (1,5 metros) o que é muito, só que é tudo em um período de seis meses (a época chuvosa). Depois, de maio a setembro, a chuva é praticamente zero no bioma.

IHU On-Line – Que contribuições o Cerrado oferece para a agropecuária?


José Felipe Ribeiro – Várias. Por conta da distribuição de chuvas, boa pluviosidade, terrenos praticamente planos, favoráveis para a mecanização, o Cerrado tem contribuído hoje como o local onde praticamente boa parte da agricultura e pecuária nacionais está se desenvolvendo. Destacam-se os grãos e, devido a eles, o Cerrado é frequentemente chamado de “celeiro do mundo” por algumas empresas. Mas isso, claro, tem um preço. Quando falamos em ambiente natural, temos uma troca, em que onde se planta não se pode manter vegetação nativa. Esse comportamento de ocupação humana tem causado o desaparecimento de enormes faixas do Cerrado, em função das atividades agrícolas e pecuárias. O grande desafio que temos na agricultura e na urbanização desse ambiente é entender até que ponto se pode plantar e conservar ao mesmo tempo, mas não no mesmo lugar.

IHU On-Line – O desenvolvimento econômico está mudando o bioma?


José Felipe Ribeiro – O fato de o Cerrado ter a percepção de ser o grande potencial agrícola do Brasil está mudando a paisagem. O desenvolvimento econômico tem uma matriz baseada principalmente no recurso financeiro, mas temos que perceber como a ciência pode ajudar na economia verde, onde se deve entender como se agrupa e se associa o desenvolvimento econômico com o social e ambiental. Nesse aspecto, o Brasil pode ocupar posição de destaque, por ainda ter muita área preservada. A partir dos recursos naturais disponíveis, temos que traçar estratégias de como ocupar a terra da melhor maneira possível. Existe um ganho econômico e, ao mesmo tempo em áreas próximas, podem ser conservados vários recursos naturais imprescindíveis ao desenvolvimento econômico, como a água. Se não se conservam a água e o solo por um mau manejo do uso da terra, perdendo-os por erosão, por exemplo, tem-se o desenvolvimento econômico do Cerrado comprometido.

IHU On-Line – Podemos dizer que todo o Cerrado está modificado pela degradação ambiental ou ainda há alguma parte intacta?


José Felipe Ribeiro – Temos praticamente em torno de 50 a 55% do Cerrado ainda remanescente. Esse número era de 60% até 2002, mas, a partir daí, a ocupação aumentou bastante. Esses são dados do Ministério do Meio Ambiente, de um trabalho em conjunto com a Embrapa. Estão desaparecendo alguns tipos de paisagens que competem com a agricultura. O pior é que muitas vezes o que fica remanescente é aquela vegetação que naturalmente acontece em solos mais rasos em que a agricultura não é possível de ser feita por máquina, e ai não estaríamos conservando o que é típico do bioma. Essa é uma situação concreta, na qual a biodiversidade representativa de algumas paisagens do Cerrado está sendo perdida.

IHU On-Line – Que tipos de biodiversidades o bioma oferece?


José Felipe Ribeiro – Podemos falar em dois tipos de biodiversidade: a que agrega as matas ciliares, de galeria, secas, o cerradão, savana, o cerrado típico, as veredas e até os campos, que é a biodiversidade de paisagem, e que associa a diversidade vegetal e animal. Depois, temos as espécies: são mais de 12 mil espécies de plantas nesses ambientes, onde algumas delas ainda estão se desenvolvendo em lugares em que a agricultura está acontecendo. Só no Cerrado o Brasil contribui para a biodiversidade mundial com 12 mil espécies vegetais. Isso é um número incrivelmente amplo. O nosso país é uma nação de megabiodiversidade por causa dessas espécies que têm na Amazônia, na Mata Atlântica e no Cerrado.

IHU On-Line – De que maneira o Cerrado contribui com a diversidade vegetal?


José Felipe Ribeiro – Se formos observar, em termos de América do Sul, geograficamente o Cerrado é uma ligação entre a Amazônia e a Mata Atlântica e entre a Caatinga e o Pantanal. Assim, ele apresenta uma distribuição de espécies que ajudam no fluxo gênico de sementes entre todos os grandes biomas nacionais. Por isso ele é muito importante para essa diversidade natural de todos os biomas presentes em nosso país.

IHU On-Line – Como pode ser definida a atual situação dos recursos hídricos no bioma?


José Felipe Ribeiro – O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro em extensão, com cerca de 204 milhões de hectares (Embrapa Cerrados, 2004). Sua maior parte está localizada no Planalto Central que, conforme sua denominação, compreende regiões de elevadas altitudes, na porção central do país. Assim, o espaço geográfico ocupado pelo bioma desempenha papel fundamental no processo de captação e de distribuição dos recursos hídricos pelo país, sendo o local de origem das grandes bacias hidrográficas brasileiras e do continente sul-americano.

Agricultura

Além da importância em termos hidrológicos, esse ecossistema possui enorme destaque nos cenários agrícolas nacional e mundial. Com pouco mais de 30 anos de ocupação agrícola, o Cerrado já conta com 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas; 13,5 milhões de hectares de culturas anuais e 2 milhões de hectares de culturas perenes e florestais. Apenas para citar algumas evidências da sua importância agrícola e econômica, na safra brasileira de 2002/2003, os percentuais da produção nacional, gerados em áreas de Cerrado, referentes às culturas de soja, algodão, milho, arroz e feijão foram de 58%, 76%, 27%, 18% e 17%, respectivamente. A região ainda responde por 41% dos 163 milhões de bovinos do rebanho brasileiro, sendo responsável por 55% da produção nacional de carne. A expansão agrícola do Cerrado continua. Culturas como a do girassol, a da cevada, a do trigo, a da seringueira e a dos hortifrutigranjeiros, bem como a prática da avicultura, desenvolvem-se rapidamente na região.

Agronegócio

Muito se tem falado sobre a importância do Cerrado para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sobre a sua condição de maior fronteira agrícola mundial. Entretanto, são poucas as oportunidades em que são considerados os aspectos ambientais e os impactos que esse desenvolvimento pode vir a gerar. Os benefícios advindos da ocupação agrícola do Cerrado são evidentes e incontestáveis, mas para que ele aconteça sob bases sustentáveis, gerando o máximo de benefícios com o mínimo de impactos, há informações que são fundamentais, porém, pouco conhecidas.

Sustentabilidade

Na verdade, nós cientistas agrícolas e ambientais devemos nos preocupar em entender qual o papel que o Cerrado pode ter em termos de Brasil e de mundo. Creio que não existem mais dúvidas de que esse bioma tem, hoje, um papel fundamental para a economia do país, principalmente pela produção de grãos e outras commodities. No entanto, devemos entender como melhorar a agricultura que podemos realizar nessa região. Temos que ter clara a ideia de que as commoditties agrícolas irão ser bem sucedidas se nós pudermos manejá-las compatibilizando com a conservação de algumas áreas dentro desse bioma. Essa atitude de conservação irá proporcionar uma agrobiodiversidade não só de espécies vegetais, mas também da fauna, e que inclui nós, da espécie humana. Na verdade, estamos falando ainda da conservação do solo e da água. Dependemos, como espécie, dessa água e desse solo para a agricultura, como qualquer outra espécie da natureza também depende. O ser humano deveria entender melhor essas regras do jogo infinito da natureza. Se nós não compatibilizarmos essas forças, iremos acabar perdendo esse jogo.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Entenda por que o Afeganistão é estratégico

Localizado entre o sul, o oeste e o centro da Ásia, país é alvo de invasões e palco de disputas de Índia, Paquistão e Irã

Bruna Carvalho, iG

Ao longo da história, a posição geográfica estratégica do Afeganistão tornou o país asiático alvo de invasões e guerras. Para entender o que é essa “posição estratégica”, basta observar um mapa da Ásia e ver que as nações que fazem fronteira com o Afeganistão são peças essenciais no quebra-cabeça geopolítico há anos.

A divisa mais extensa é com o Paquistão, que enfrenta desde sua independência (1948) um conflito com a vizinha Índia, possui armas nucleares e tem com os EUA uma conturbada aliança. Do lado ocidental está o Irã, nação teocrática, de regime fechado, inimiga declarada dos americanos.

A China, que compartilha com o Afeganistão 76 km de fronteira, emergiu como uma superpotência econômica nos últimos anos e, portanto, tem interesse em influir em uma região eventualmente estabilizada no intuito de ganhar o mercado consumidor afegão.

Veja mapa com a localização geográfica e divisões étnicas do Afeganistão:

"O Afeganistão está localizado entre o sul, o oeste e o centro da Ásia, ou seja, entre importantes regiões econômicas e culturais. No período moderno, a rivalidade entre czaristas russos e os britânicos durante o colonialismo (século 19) afetou diretamente o Afeganistão. Depois, o legado dos poderes coloniais e a briga superpoderosa entre os EUA e a União Soviética (Guerra Fria, 1947-1991) também atingiram o país em cheio. Além disso, existe o latente confronto entre o Paquistão e a Índia", afirmou ao iG o especialista em islamismo e conflitos asiáticos Pervaiz Nazir, professor da Universidade de Cambridge, Reino Unido.

Índia x Paquistão
O conflito entre a República Islâmica do Paquistão e a República da Índia teve início após a partilha da Índia britânica, em 1947 (que deu origem aos dois países e a Bangladesh), e está centrado no controle da Caxemira, região montanhosa de maioria muçulmana que faz divisa com os dois países.

Entre 1947 e 1948, a Índia e o Paquistão travaram sua primeira guerra pela região. Sob supervisão da ONU, os dois concordaram com um cessar-fogo ao longo de uma fronteira que deixou um terço da área sob administração paquistanesa e os dois terços restantes sob controle indiano.

Em 1972, um acordo renomenou a fronteira do cessar-fogo de Linha de Controle. Apesar de a Índia, de maioria hindu, alegar que todo o Estado faz parte do país, tem indicado que aceitaria a demarcação como uma fronteira internacional com algumas possíveis modificações. Mas o Paquistão rejeita a medida com o argumento de que o chamado Vale da Caxemira, com população 95% muçulmana, ficaria com a Índia. Além disso, o movimento insurgente da Caxemira, apoiado por Islamabad, luta desde 1989 pela independência da área sob administração indiana.

Foto: Getty Images
Em foto datada de 4 de janeiro de 2001, um soldado paquistanês guarda a fronteira entre seu país e a Índia

O Afeganistão, geograficamente muito próximo à disputa das duas potências nucleares, contou em seus conflitos internos com interferência dos dois países, sempre assumindo lados opostos. Enquanto Nova Délhi apoiava os soviéticos durante a invasão (1979-1989), o Paquistão financiava os mujahedin (combatentes islâmicos) para expulsá-los.

Mais tarde, o Paquistão ajudou a milícia islâmica do Taleban a controlar o país, enquanto a Índia financiou a Aliança do Norte (organização político-militar das etnias afegãs) para combatê-lo.

O Afeganistão também é palco de denúncias mútuas entre os dois países. Depois da queda do Taleban, após a invasão da coalizão liderada pelos EUA em 2001, Islamabad acusou consulados abertos pela Índia nas cidades afegãs de Maza-e-Sharif, Jalalabad, Herat e Kandahar de abrigar agentes de inteligência que planejavam operações contra o Paquistão.

A Índia, por outro lado, é um dos países que acusam o serviço de inteligência paquistanês de ainda apoiar o Taleban, o que é negado pelas autoridades de Islamabad. Essa desconfiança cresceu depois de dois ataques contra a embaixada da Índia na capital afegã, Cabul, no período de 15 meses (entre julho de 2008 e outubro de 2009), que deixaram um total de 57 mortos.

A Índia tem interesses particulares no Afeganistão, pois o país é rota para as nações do centro asiático com alto potencial energético. Além disso, Nova Délhi tem feito investimentos pesados no setor no Turcomenistão, vizinho do Afeganistão. "Em uma tentativa de isolar o Paquistão, a Índia quer reforçar os laços com o Afeganistão, e vice-versa", disse Kirk Buckman, professor de Relações Internacionais da Universidade New Hampshire, nos EUA.

Irã
O Irã e o Afeganistão têm proximidades culturais, uma vez que os tajiques, segundo maior grupo étnico em território afegão, também falam farsi, enquanto os hazaras, terceiro maior grupo e localizados predominantemente no centro do país, também são xiitas.

Durante a invasão soviética, desembarcaram no país tropas da Guarda Revolucionária Islâmica para treinar grupos xiitas em uma tentativa de expandir a Revolução Islâmica do Irã de 1979. Com a queda da União Soviética (1991) e a retirada de seus soldados do país asiático, Teerã apoiou as etnias tajique e hazara ligadas à Aliança do Norte para tentar impedir a ascendência do sunita Taleban.

No entanto, em 1996, o Taleban passou a controlar boa parte do território afegão, complicando as relações bilaterais até então amigáveis. O auge da tensão aconteceu em 1998, quando o Taleban invadiu o consulado iraniano em Mazar-e-Sharif, matando um grupo de diplomatas. Em resposta, Teerã posicionou soldados em suas fronteiras.

Depois da invasão pós-11 de Setembro, que culminou com a deposição do Taleban (que dava abrigo à rede terrorista Al-Qaeda), o Irã voltou a marcar presença no território afegão, construindo até uma ferrovia para ligar os dois países. Por causa do impacto interno do grave problema da produção de ópio no Afeganistão, o Irã tolerou a presença americana no país, facilitou programas de combate às drogas e também reconheceu o governo de Hamid Karzai.

Esse breve momento de indulgência em relação à presença ocidental, porém, chegou ao fim quando, em 2002, o então presidente americano George W. Bush (2001-2009) colocou o Irã em seu "eixo do mal", ao lado do Iraque e Coreia do Norte.

Para alguns especialistas ouvidos pelo centro de estudos americanos Council Foreign Relations (CFR), desde então o Irã começou a apoiar a militância islâmica, primeiro no Iraque (invadido pelos EUA em 2003) e posteriomente no Afeganistão. Apesar de parecer contraditório, tendo em vista que o Taleban é sunita e o Irã, xiita, o apoio ao grupo insurgente desestabiliza o Afeganistão e, consequentemente, a missão militar dos EUA no país.

Divisões frágeis
Os 2,4 mil km de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão são palco de históricos conflitos, e a pacificação da região, segundo os EUA, depende da vitória sobre o caos provocado pelas disputas tribais dos dois países.

Cabul nunca reconheceu as divisões fronteiriças e reivindica áreas da etnia pashtun, localizadas no Território Federal das Áreas Tribais e partes do norte paquistanês. "Há um forte laço entre os dois países que é a identidade comum entre as populações muçulmanas afegãs e paquistaneses. Além disso, a população afegã é predominantemente pashtun (40%) e há também um significativo número de pashtuns na região noroeste do Paquistão", disse Buckman, da New Hampshire.

A etnia balúchi também vive em ambos os lados da fronteira. Essa presença tribal nos dois países mostra o quão frágeis são as divisões impostas pela mentalidade colonialista do século 19, que não respeitaram as diferenças étnicas, dispondo no mesmo território povos com diferentes costumes e dialetos e separando outros com profunda identidade histórica. A fragilidade na fronteira é tamanha que circulam com tranquilidade criminosos, traficantes de drogas e de armas pela região.

Após os atentados do 11 de Setembro e o início da Guerra no Afeganistão, o Paquistão se aliou aos EUA e declarou oposição aos grupos que antes tinha fortalecido durante a invasão soviética, como o Taleban, em contraponto à Índia.

Foto: Getty Images
Foto tirada em 23 de dezembro de 2001 mostra uma família que fugiu de locais controlados pelo Taleban, alvo de ataques militares, para um campo de refugiados em Jalalabad


Atualmente as autoridades americanas, afegãs e indianas, porém, deixam claro que suspeitam que essa oposição aos grupos militantes limita-se ao discurso. De acordo com essas denúncias, a escalada da violência no Afeganistão tem como uma de suas causas o apoio implícito dado pelo serviço de inteligência paquistanês (ISI) ao Taleban e à sua aliada rede Haqqani, cuja base fica no Paquistão.

Essas suspeitas fizeram com que Washington invadisse o Paquistão em maio, desrespeitando sua soberania, para garantir o sucesso da operação em que o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, foi morto. Na época, os EUA justificaram a medida afirmando que era necessária para evitar que bin Laden fosse avisado e pudesse fugir. Caçado desde antes dos ataques do 11 de Setembro, bin Laden estava escondido em uma casa na cidade paquistanesa de Abbottabad, a apenas 64 km de Islamabad e ao lado de uma academia militar.

Desde então, a relação dos dois países está estremecida e piorou ainda mais quando, em 22 de setembro, o chefe do Estado-Maior Conjunto americano, almirante Mike Mullen, acusou a ISI de apoiar o grupo Haqqani no planejamento e condução do ataque lançado nove dias antes contra a Embaixada dos EUA em Cabul.

A mais recente acusação feita contra o ISI está relacionada ao assassinato de Burhanuddin Rabbani, ex-presidente afegão e mediador para a paz. Em 20 de setembro, um homem que se apresentou como mensageiro do Taleban explodiu uma bomba escondida no seu turbante ao cumprimentar Rabbani em sua residência, em Cabul.

Segundo autoridades afegãs, o resultado das investigações confirma que o terrorista era paquistanês e que o atentado foi planejado em Quetta. O ministro do Interior afegão garantiu que os agentes da ISI tinham envolvimento na trama, o que foi negado veementemente por Islamabad.

O Taleban não reivindicou o atentado, mas a possibilidade de ter sua autoria é quase certa, uma vez que, além de representar o governo Karzai, Rabbani é um tajique e fez parte da Aliança do Norte, inimiga do Taleban pashtun desde o período pós-ocupação soviética.
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Terras secas

A desertificação ameaça um sexto da população brasileira. Dentre suas principais consequências estão a redução da produção agrícola e da biodiversidade, a migração e a pobreza das populações afetadas.

Isabela Fraga

O Nordeste possui mais de 1,1 milhão de quilômetros quadrados suscetíveis à desertificação. Na foto, região do médio Jaguaribe, onde o fenômeno se encontra em estágio avançado. (foto: Arnóbio Cavalcante/ MCT-Insa)
“Doutor, pode ver o que está acontecendo com a minha plantação?”, perguntou um agricultor do município de São Domingos de Cariri, na Paraíba, ao geógrafo Bartolomeu Israel de Souza durante um trabalho de campo no estado.

Souza, pesquisador da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), acompanhou o senhor até seu pequeno cultivo para poder responder à convocação. “Eu molho, molho, mas não adianta!”, reclamou o agricultor, apontando para uma área de terra seca e sem vida.

Souza, então, se ofereceu para recolher uma amostra do solo e verificar, em análise laboratorial, o problema. A questão, no entanto, já lhe era clara: salinização, um dos principais fatores por trás da desertificação.

Desertificação significa a degradação progressiva de terras em ambientes áridos, semiáridos e subúmidos secos (no Brasil, há apenas os dois últimos). O resultado do processo são áreas com nenhuma ou pouca vegetação, erosão acentuada e, muitas vezes, infertilidade.

Em uma região desertificada, irrigar a terra não é suficiente para que se consiga cultivá-laDaí a reclamação do agricultor paraibano: em uma região desertificada, irrigar a terra não é suficiente para que se consiga cultivá-la. Ele e outros pequenos produtores são os principais prejudicados, pois perdem parte importante de sua subsistência.

Sem ter de onde tirar sustento para suas famílias, muitos migram para cidades maiores – dentro do Nordeste ou em outras regiões –, dependendo exclusivamente da ajuda financeira do governo e com pouca ou nenhuma perspectiva de recuperação de sua propriedade.

Dedo humano
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, ao menos em 100 países, 1 bilhão de pessoas seja ameaçado pelo processo de degradação de terras secas. E 24 milhões delas já sofrem os efeitos do fenômeno – a maior parte na África, continente mais afetado.

No Brasil, moradores de parte do 1,1 milhão de quilômetros quadrados suscetíveis à desertificação já veem todos os dias a imagem do solo seco e rachado sem potencial produtivo. A seriedade do problema levou a ONU a declarar esta a Década para os Desertos e a Luta contra a Desertificação.

Flor de xique-xique, uma das espécies típicas do semiárido ameaçadas pela dsertificação (foto: Bartolomeu Israel de Souza)Engana-se, no entanto, quem pensa que o cenário da desertificação se parece com desertos como o Saara africano ou o Atacama, no Chile. “Esses são biomas equilibrados, resultado de processos naturais que duraram milhares de anos”, explica Souza. “Terras desertificadas, por outro lado, são resultado principalmente da ação humana, em um espaço de tempo muito mais curto, insuficiente para o ambiente se reequilibrar.”

As atividades humanas que podem deflagrar, causar ou acentuar o processo de desertificação são muitas – vão desde o desmatamento, passando pelo pastejo excessivo até formas de irrigação danosas.

Terras desertificadas são resultado principalmente da ação humana, em um espaço de tempo muito mais curtoO fenômeno começou a ser percebido no Brasil na década de 1970, quando foram lançados os primeiros estudos sobre o problema – antes apontado como exclusivamente africano.

Quarenta anos depois, poderia se pensar que já há uma vasta base de dados acerca das regiões mais desertificadas ou que têm maior potencial de desertificação no país – além de inúmeros programas governamentais para dar conta do problema.

A realidade, no entanto, não é bem essa. Há, de fato, cada vez mais pesquisas em universidades nordestinas que buscam analisar melhor o processo. Mas, por necessidade, esses estudos são muito locais e usam parâmetros específicos para designar uma região suscetível à desertificação ou analisar aquelas onde o processo já ocorre – os chamados índices de desertificação.

A pesquisa de Souza, por exemplo, é focada na região do Cariri paraibano – e nem por isso deixa de ser um trabalho hercúleo, com coletas de solo, pesquisas de campo e análises em laboratório. O fato, porém, é que é difícil ter um panorama mais abrangente de como a desertificação tem atingido os estados brasileiros nas últimas décadas. 18/04/2011

Isabela Fraga
Revista Ciência Hoje/RJ

sábado, 21 de janeiro de 2012

Por que não exportamos mais manufaturados?

O Brasil é bom ou ruim na hora de exportar? Eis um tema polêmico. Sim, o País brilhou ao aumentar as exportações de 2011 em 26,8% ante as de 2010, alcançando inéditos US$ 256 bilhões em receita.

por Carla Jimenez

O Brasil é bom ou ruim na hora de exportar? Eis um tema polêmico. Sim, o País brilhou ao aumentar as exportações de 2011 em 26,8% ante as de 2010, alcançando inéditos US$ 256 bilhões em receita. São números alentadores para um ano sui generis como foi 2011. No entanto, sempre resta a incômoda sensação de que poderíamos ter sido muito melhores se a participação dos manufaturados na pauta de exportações superasse os 38%, medidos pela régua da Organização Mundial do Comércio (OMC). A discussão é sinuosa. Não é demérito ampliar as exportações de bens básicos, ainda mais quando os grandes compradores elevam a altura de seus muros de protecionismo.

Não há demérito em ampliar a exportação de bens básicos, ainda mais quando avançar é romper muralhas protecionistas, como a dos EUA à carne suína brasileira.

Tivemos dois exemplos na semana passada. Na terça-feira 10, os americanos aceitaram comprar carne suína in natura brasileira. A abertura veio na esteira do acordo sobre o contencioso do algodão que os dois países travaram até 2010. O Brasil questionava os subsídios do governo americano aos seus produtores de algodão, e venceu a pendenga na OMC. Brasil e EUA concordaram que as barreiras sanitárias contra a carne brasileira seriam revistas. Coincidência ou não, na quarta-feira 11, os mesmos americanos questionaram o uso de um pesticida na produção de laranja, o que poderia interromper o fluxo de exportações brasileiras de suco.


Prova que o comércio exterior é um campeonato muito difícil de ser disputado, mas cujas regras o Brasil já domina.  Agora, quando a pauta de manufaturados entra em campo, o País perde de goleada. Tomamos bolas nas costas uma dezena de vezes nos principais ciclos econômicos globais. Nos anos 1980 as nações ricas corriam para se posicionar como fornecedores de tecnologia e investiam em inovação. Mas o Brasil vivia da mão para a boca, se esforçando para iniciar a redemocratização, salvar-se da inflação e da dívida externa. A colheita do que cada país semeou no passado é muito clara hoje.


Nos Estados Unidos, berço da Apple, Intel e Microsoft, 73% das exportações são de manufaturados: tablets, chips, etc. Já o Brasil, continua firme em commodities. Quando exporta bens de maior valor agregado, são carros, sapatos e maquinários, mercados onde há muito mais competidores. Mudar esse quadro leva tempo. Embora o País tenha aprendido a pensar diversas questões no longo prazo, permanecemos no padrão da mão para a boca nas exportações de manufaturados. O programa de política industrial Brasil Maior, lançado no ano passado, por exemplo, dedica uma parte aos exportadores, mas com iniciativas tímidas, como a devolução de créditos fiscais para empresas que exportam.


Os Estados Unidos não só têm incentivos para a venda como para o investimento das empresas exportadoras, assim como um forte banco de fomento, o Eximbank, para financiar o comércio. O foco no assunto é estratégico, a ponto de o governo americano lançar, neste mês, o estudo A Competitividade e a Capacidade Inovadora dos Estados Unidos, que mapeia forças e deficiências do país e deve pautar políticas de longo prazo para reforçar o papel dos americanos no comércio mundial. O Brasil até chegou a ensaiar um Eximbank brasileiro, mas faltou bala na agulha para bancar o projeto. O País trabalha, agora, para substituir importações, buscando atrair cadeias de fornecedores estrangeiras de diversos segmentos, como equipamentos para área de saúde e eletroeletrônicos, mas ainda sem um norte de longo alcance.

Isto é dinheiro

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Pangeia, o retorno. De volta ao futuro???

Pangéia, o retorno
A ciência já sabe: daqui a 250 milhões de anos, a cara do nosso planeta será bem parecida com uma fotografia do passado distante. Bem-vindo ao próximo supercontinente
CAROLINE WILLIAMS E TED NIELD


Você embarcou em sua máquina do tempo. Para o futuro, 250 milhões de anos adiante. A Terra está viva e bem. Os humanos há muito pereceram, mas o planeta continua a ser o lar de formas de vida desconcertantes. Com exceção de alguns poucos fósseis misteriosos, não há nenhuma evidência de que um dia existimos. Para alguém que viveu no século 21, como eu e você, a Terra é quase irreconhecível. Os continentes estão unidos em uma única e gigantesca massa cercada por um oceano global. A maior parte do solo seco é um deserto hostil, enquanto a costa é atacada por tempestades ferozes. Os oceanos são turbulentos na superfície, estagnados nas profundezas e constantemente famintos por oxigênio e nutrientes. Doenças, guerras e colisões de asteróides levaram humanos e muitas outras espécies do passado à extinção. Pronto, voltemos ao presente.

Esse supercontinente do futuro não é o primeiro e não será o último. Geólogos suspeitam que o movimento das massas de terra em nosso planeta é cíclico e que a cada 500 ou 700 milhões de anos elas se juntam. Esse ciclo é três vezes mais longo do que o tempo gasto pelo nosso Sistema Solar para orbitar o centro da galáxia. Isto posto, resta saber o que rege esse fenômeno, e como a vida será na próxima vez que os continentes se encontrarem.

Os continentes se movem graças à circulação do manto terrestre sob as sete grandes placas tectônicas. Quando elas se encontram, uma placa é forçada a ficar sob a outra, em um processo chamado subducção. Ele separa a crosta do outro lado da placa, permitindo que novas camadas de magma cheguem à superfície para preencher a lacuna. Esse processo faz com que a crosta oceânica seja constantemente criada e destruída. Como os continentes são feitos de rocha menos densa do que aquela mais pesada e mais fina da crosta oceânica, que forma o chão marinho, eles passam acima do manto e escapam da subducção.

Como resultado de tudo isso, os continentes mantêm sua forma por centenas de milhões de anos enquanto deslizam vagarosamente pelo planeta. Entretanto, as massas de terra acima da água do mar colidem sempre. E, às vezes, juntam-se para formar um supercontinente.

O mais recente e célebre deles, Pangéia, foi formado há 300 milhões de anos e sucumbiu 100 milhões de anos depois, quando os dinossauros surgiram. Cerca de 1,1 bilhão de anos atrás, outro supercontinente, Rodínia, formou-se e fragmentou-se 250 milhões de anos depois. Com toda certeza, eles não foram os únicos - a lista inclui Pannotia, Columbia (ou Nuna), Kenorland e Ur (veja "Passado e futuro dos supercontinentes"). O problema é que ninguém sabe ao certo quantos deles existiram porque a formação de um supercontinente tende a destruir evidências de seu antecessor. Se há um ponto sobre o qual todos concordam é que existiram dois deles contendo toda, ou quase isso, a terra do planeta: Pangéia e Rodínia.

MAPAS-MÚNDI
Há 250 milhões de anos, havia Pangéia, um supercontinente que cobria o globo de norte a sul. Daqui a outros 250 milhões de anos, os continentes se juntarão mais uma vez. Eis três hipóteses a respeito do futuro de nosso planeta.


No meio do caminho
Neste exato momento, vivemos a metade de um ciclo. O Oceano Pacífico está gradualmente se fechando, a crosta oceânica afunda nas zonas de subducção do Pacífico Norte, um sulco do Atlântico Central está alimentando novo solo marinho e as Américas separam-se cada vez mais da Europa e da África. Por falar em África, o continente está se movendo para o norte, em direção ao sul da Europa. A Oceania também caminha para o norte, rumo ao Sudeste Asiático. Os continentes movem-se cerca de 15 milímetros por ano, velocidade similar ao crescimento das unhas de um ser humano.

Adiante o relógio em algum ponto entre 50 e 100 milhões de anos e será fácil ter uma idéia básica de como tudo será. Se olharmos ainda mais para o futuro, descobriremos que as mudanças não se resumem ao movimento contínuo dos continentes. Christopher Scotese, da Universidade do Texas, em Arlington, compara o problema a dirigir em uma estrada. "Você pode ter um palpite de onde estará em 5 ou 10 minutos, mas sempre há acidentes. As pessoas mudam de faixas ou a estrada pode ter um desvio inesperado. Se algo assim acontecer, você terá de fazer uma escolha." Há duas maneiras de os continentes como os conhecemos se juntarem. Se o Oceano Atlântico continuar a se expandir, as Américas em algum momento irão trombar com a Ásia. Por outro lado, uma zona de subducção pode se abrir no Atlântico e trazer o solo marinho de volta, forçando a Europa e a América a ficarem juntas novamente. Isso, essencialmente, recriaria a Pangéia.

Em 1992, o geólogo Chris Hatnady, da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul), aceitou o desafio de projetar o próximo supercontinente. Segundo ele, enquanto o Atlântico continua a aumentar, "as Américas seguem em sentido horário, ao redor de um eixo a noroeste da Sibéria, parecendo destinadas a juntar-se com a margem leste do futuro supercontinente", o qual é chamado de Amásia pelo geólogo Paul Hoffman, da Universidade de Harvard (EUA). Nessa visão do futuro, a Oceania continuará seu caminho para o norte, e a África ficará mais ou menos no mesmo lugar. Enquanto isso, a Antártica permanecerá no Pólo Sul. "Ela não está ligada a nenhuma zona de subducção. Portanto, não existe razão para qualquer movimento", afirma Hoffman.

Roy Livermore, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), chegou a conclusão parecida. No fim dos anos 1990, ele criou sua própria versão de Amásia, um futuro supercontinente que chamou de Novopangéia. "Tomei a liberdade de abrir uma nova fenda entre o Oceano Índico e o Atlântico Norte", diz. "Sabemos que a Grande Fenda [complexo de falhas tectônicas na costa da África] é ativo, então o projetamos abrindo um pequeno oceano no futuro. A África oriental e a ilha de Madagáscar movem-se através do Oceano Índico para colidir com a Ásia. A Oceania já teria colidido com o sudeste da Ásia." Além disso, uma cadeia de montanhas terá surgido no mar que seguirá junto à zona de subducção ao sul da Índia.

No futuro de Livermore, todos os continentes atuais estão unidos. "Eu não acredito que a Antártica permanecerá no Pólo", diz. Para tanto, ele supõe que uma nova zona de subducção será aberta para levar tudo embora. "A beleza disso é que ninguém nunca poderá provar que estou errado", afirma o geólogo.

PASSADO E FUTURO DOS SUPERCONTINENTES
Os geólogos já sabem que pelo menos dois deles já existiram no passado, Pangéia e Rodínia. Evidências concretas da existência de outros supercontinentes são controversas, já que a nascimento de um praticamente elimina os sinais de seus antecessores. Eis algumas das suspeitas dos cientistas.
UR ; cerca de 3 bilhões de anos atrás
Kenorland; 2,5 bilhões de anos atrás
COLUMBIA (ou NUNA); cerca de 1,9 bilhões de anos atrás
RONDÍNIA; cerca de 900 milhões de anos atrás
PANNOTIA ; 600 milhões de anos atrás
PANGÉIA ; 300 milhões de anos atrás
HOJE
PRÓXIMO SUPERCONTINENTE; 250 milhões de anos no futuro

Isso pode ser verdade, mas outros pesquisadores discordam. Scotese gastou muito de sua carreira reconstruindo o passado da Terra e agora aplica esse conhecimento para projetar os continentes no futuro. Ele não o vê como Hoffman e Livermore. Como eles, Scotese prevê que nos próximos 50 milhões de anos a África continuará indo para o norte, fechando o Mediterrâneo e impulsionando uma cadeia montanhosa do tamanho do Himalaia ao sul da Europa. A Austrália irá girar e colidir com Bornéu e o sul da China. Mas, segundo ele, tudo irá mudar 200 milhões de anos mais tarde. A subducção começa do lado ocidental do Atlântico. A abertura pára e o Atlântico começa a encolher, unindo novamente a maior parte das grandes áreas de terra, enquanto a América do Norte tromba com o continente Euro-Africano. Originalmente, Scotese chamou o supercontinente resultante de Pangéia Última, mas recentemente o renomeou de Pangéia Próxima. "O nome Última me incomodava porque dá a idéia de ser o supercontinente derradeiro", diz Scotese. "Esse processo irá continuar por outros bilhões de anos."

O geólogo diz que uma nova zona de subducção no Atlântico poderia ser aberta se uma pequena zona já existente, como uma parte da Fossa de Porto Rico (Caribe), se espalhar até a costa americana como resultado da mudança das tensões no planeta. Sob as condições certas, ele diz, a crosta poderia começar a quebrar ao longo de sua linha, sinalizando o começo do fim para a Dorsal Meso-Atlântica. Hoje ela fica no meio do caminho entre a Europa e as Américas, mas, "se estivéssemos para começar a subducção no Atlântico ocidental ou no Atlântico oriental, a Dorsal seria forçada a se mover em direção à zona de subducção", diz. "Ela seria reduzida e teríamos um oceano com uma zona de subducção e sem a fenda. Isso significa que o Atlântico seria fechado rapidamente."

No momento, não há nada que mostre qual dos modelos está correto. Mas todos concordam que a vida em qualquer um deles será bem difícil. "Supercontinentes criam extremos", diz Paul Valdes, climatologista da Universidade de Bristol (Inglaterra). Podemos dizer como era o clima da Pangéia graças a evidências geológicas como as posições dos depósitos sensíveis ao clima, entre eles os de carvão, originados em condições quentes e úmidas. Esse tipo de evidência pode ser usado para construir modelos de computador capazes de prever o clima do futuro. Os modelos resultantes sugerem que supercontinentes estão propensos a mudanças violentas nas estações do ano.

"Em Pangéia, as latitudes tropicais poderiam ser bem quentes, talvez acima de 44°C. Latitudes medianas teriam verões muito quentes e invernos muito frios, com temperaturas chegando a 20°C ou 30°C negativos, com muita neve", diz Valdes. "Tudo derreteria nos verões seguintes, causando grandes inundações." Apesar disso, vastas áreas no interior ficariam secas, porque as nuvens de chuva não teriam como avançar para terras mais internas. Em climas tão extremos, apenas uma pequena porção do supercontinente seria capaz de sustentar formas de vida. Em Pangéia, segundo Valdes, as terras com melhores condições ficavam em uma zona estreita logo depois dos trópicos. A vastidão do supercontinente futuro também provocará climas extremos. Monções se formarão por causa das diferenças de temperatura entre terra e oceano. "Se você tem uma grande massa de terra, ela aquece e estimula uma megamonção", diz Valdes.



Se abrigar vulcões em atividade, o novo supercontinente será castigado por furacões extremos
Devastação no ar
Pior: se o supercontinente abrigar vulcões em atividade, teremos uma atmosfera rica em dióxido de carbono e um planeta mais aquecido. Águas superficiais mais quentes poderiam formar furacões extremos. Com milhares de quilômetros de diâmetro e cerca de 50% mais fortes do que os mais destruidores furacões de hoje em dia, eles iriam devastar a paisagem com ventos de mais de 400 km/h.

A vida também será difícil nos oceanos. O sistema global de condução das correntes, que atualmente mantém a oxigenação e o estoque de nutrientes, dependerá do tamanho e do formato da bacia oceânica, além da posição dos continentes. Mova-os e esses condutores poderão desaparecer. O resultado será desastroso: as águas se tornarão estratificadas e com pouco oxigênio, e muito pouco da vida marinha será capaz de sobreviver.

As costas cheias de recifes perto do equador ainda serão férteis, mas a vida não será fácil mesmo ali. Quando os continentes se juntarem, haverá uma redução drástica da área de mares rasos. Muito provavelmente, essa diminuição levará à extinção em massa de espécies colocadas no mesmo ambiente e forçadas a competir. Algo parecido também acontecerá em terra. A formação de Pangéia é freqüentemente responsabilizada por uma das maiores mortandades de todos os tempos, a extinção Permiana, em parte devido à redução de hábitat disponível.

Entretanto, a vida é pródiga ao tirar o melhor de novas situações. Há 290 milhões de anos, quando a Pangéia se formou e as calotas polares derreteram, surgiram alguns dos ecossistemas mais misteriosos até hoje. Florestas densas de árvores Glossopteris (do grego "glossa", "língua", porque as suas folhas tinham esse formato) cresceram a mais de 25 metros de altura na costa sul do Mar de Tétis (surgido com a separação de Pangéia) e avançaram para o interior a 20 graus do Pólo Sul.

Apesar de serem sustentadas por um verão de luz fraca, essas árvores eram capazes de sobreviver por meses na escuridão do inverno. Toda a vegetação próxima à costa era fustigada por monções poderosas e chuvas barulhentas vindas do Mar de Tétis, com nuvens escuras obstruindo o já enfraquecido sol. Quando o inverno se aproximava, as folhas da Glossopteris caíam graças à falta de oxigênio. Não é surpresa que análises de anéis de crescimento fossilizados mostraram que a Glossopteris crescia freneticamente enquanto podia.

De qualquer maneira, os humanos não estarão aqui para ver esse futuro. O próximo supercontinente ainda não passa de um punhado de especulações, mas já tem lições valiosas para nos passar. Até podemos ficar cada vez mais espertos, mas a Terra continuará sua jornada pelo Cosmos. Com ou sem a nossa presença por aqui.
Revista Galileu

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A nova divisão internacional do mundo


A nova divisão internacional do mundo

Marcio Pochmann

Até a metade do século XVIII, o espaço geográfico que compreende os países asiáticos respondia pela maior parte da produção mundial, tendo em vista a combinação de sua grande dimensão populacional e territorial. Com o surgimento da primeira Revolução Industrial (motor a vapor, ferrovias e tear mecânico), a partir de 1750, o centro dinâmico do mundo deslocou-se para o Ocidente, especialmente para a Inglaterra, que rapidamente se transformou na grande oficina de manufatura do mundo por conta de sua original industrialização.

A divisão internacional do trabalho, que resultou do movimento de deslocamento da estrutura da produção e exportação na manufatura inglesa em relação aos produtos primários exportados pelo resto do mundo, sofreu modificações importantes somente com o avanço da segunda Revolução Industrial (eletricidade, motor a combustão e automóvel) no último quartel do século XIX. Naquela época, a onda de industrialização retardatária em curso nos Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, protagonizou as principais disputas em torno da sucessão da velha liderança inglesa. A sequência de duas grandes guerras mundiais (1914 e 1939) apontou não apenas para o fortalecimento estadunidense como permitiu consolidar o novo deslocamento do centro dinâmico mundial da Europa (Inglaterra) para a América (EUA).

Com a Guerra Fria (1947 – 1991), prevaleceu a polarização mundial entre o bloco de países liderados pelos Estados Unidos e pela antiga União Soviética. Na década de 1970, com a crise capitalista impulsionada pela elevação dos preços de matéria-prima e petróleo, a economia dos EUA apresentou sinais de enfraquecimento, simultaneamente ao fortalecimento da produção e exportação japonesa e alemã. Especialmente com a adoção das políticas neoliberais pelos EUA, o mundo novamente voltou a se curvar ao poder norte-americano, sobretudo nos anos 1990, com o desmoronamento soviético que favoreceu o exercício unipolar da dinâmica econômica mundial.


A manifestação da grave crise global desde 2008 tornou mais claro o conjunto de sinais da decadência relativa dos Estados Unidos. A ineficácia das políticas neoliberais e o poder concentrado e centralizado das grandes corporações transnacionais adonaram-se do Estado em grande parte dos países desenvolvidos, sendo responsável pela adoção de políticas caracterizadas como “socialismo dos ricos”. Enquanto os trabalhadores pagam com a perda de seus empregos e a precarização das ocupações, os grandes grupos econômicos se ajustam com grandes somas do orçamento público, este, incapaz de recuperar a dinâmica produtiva, priorizando a financeirização da riqueza.

Simultaneamente, percebe-se o reaparecimento da multicentralidade geográfica mundial com um novo deslocamento do centro dinâmico da América (EUA) para a Ásia (China). Ao mesmo tempo, países de grande dimensão geográfica e populacional voltaram a assumir maior responsabilidade no desenvolvimento mundial, como no caso da China, Brasil, Índia, Rússia e África do Sul, que já respondem atualmente pela metade da expansão econômica do planeta. São cada vez mais chamados de “países baleia”, que procuram exercer efeitos sistêmicos no entorno de suas regiões, fazendo avançar a integração supra-regional, como no caso do Mercosul e Asean, que se expandem com maior autonomia no âmbito das relações Sul-Sul. Não sem motivos, demandam reformulações na ordem econômica global (reestruturação do padrão monetário, exercício do comércio justo, novas alternativas tecnológicas, democratização do poder e sustentabilidade ambiental).

Uma nova divisão internacional do trabalho se vislumbra associada ao desenvolvimento das forças produtivas assentadas na agropecuária, mineração, indústria e construção civil nas economias “baleia”. Também ganham importância as políticas de avanço do trabalho imaterial conectado com a forte expansão do setor de serviços. Essa inédita fase do desenvolvimento mundial tende a depender diretamente do vigor dos novos países que emergiram cada vez mais distantes dos pilares anteriormente hegemônicos do pensamento único (equilíbrio de poder nos Estados Unidos, sistema financeiro internacional intermediado pelo dólar e assentado nos derivativos, Estado mínimo e mercados desregulados), atualmente desacreditados.

Nestes termos, percebe-se que a reorganização mundial desde a crise global em 2008 vem se apoiando numa nova estrutura de funcionamento que exige coordenação e liderança mais ampliada. Os “países baleia” podem contribuir muito para isso, tendo em vista que o tripé da nova expansão econômica global consiste na alteração da partilha do mundo derivada do policentrismo, associado à plena revolução da base técnico-científica da produção e do padrão de consumo sustentável ambientalmente.

A conexão dessa totalidade nas transformações mundiais requer o resgate da cooperação e integração supranacional em novas bases. A começar pela superação da antiga divisão do trabalho entre países assentada na reprodução do passado (menor custo de bens e serviços associado ao reduzido conteúdo tecnológico e valor agregado dependente do uso trabalho precário e da execução em longas jornadas sub-remuneradas). Com isso, o desenvolvimento poderia ser efetivamente global, evitando combinar a riqueza de alguns com a pobreza de outros.

As decisões políticas de hoje tomadas pelos países de grandes dimensões territoriais e populacionais podem asfaltar, inexoravelmente, o caminho do amanhã voltado à constituição de um novo padrão civilizatório global. Quem sabe faz acontecer, como se pode observar pelas iniciativas brasileiras recentes. Todavia, elas ainda precisam ser crescentemente aprimoradas, avançando no enfrentamento dos problemas de ordem emergencial, como valorização cambial e elevada taxa de juros, que comprometem a competitividade, para as ações estratégicas que atuam sobre a nova divisão internacional do trabalho.
Revista Fórum

domingo, 18 de dezembro de 2011

Mobilidade versus carrocentrismo: Que futuro queremos?


Artigo de Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da FEA, do Instituto de Relações Internacionais da USP e pesquisador do CNPq e da Fapesp. Publicado hoje na Folha.

Ampliar espaços de circulação para automóveis individuais é enxugar gelo, como já bem perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades
Automóveis individuais e combustíveis fósseis são as marcas mais emblemáticas da cultura, da sociedade e da economia do século 20.

A conquista da mobilidade é um ganho extraordinário, e sua influência exprime-se no próprio desenho das cidades. Entre 1950 e 1960, nada menos que 20 milhões de pessoas passaram a viver nos subúrbios norte-americanos, movendo-se diariamente para o trabalho em carros particulares. Há hoje mais de 1 bilhão de veículos motorizados. Seiscentos milhões são automóveis.

A produção global é de 70 milhões de unidades anuais e tende a crescer. Uma grande empresa petrolífera afirma em suas peças publicitárias: precisamos nos preparar, em 2020, para um mundo com mais de 2 bilhões de veículos.

O realismo dessa previsão não a faz menos sinistra. O automóvel particular, ícone da mobilidade durante dois terços do século 20, tornou-se hoje o seu avesso.

O desenvolvimento sustentável exige uma ação firme para evitar o horizonte sombrio do trânsito paralisado por três razões básicas.

Em primeiro lugar, o automóvel individual com base no motor a combustão interna é de uma ineficiência impressionante. Ele pesa 20 vezes a carga que transporta, ocupa um espaço imenso e seu motor desperdiça entre 65% e 80% da energia que consome.

É a unidade entre duas eras em extinção: a do petróleo e a do ferro. Pior: a inovação que domina o setor até hoje consiste muito mais em aumentar a potência, a velocidade e o peso dos carros do que em reduzir seu consumo de combustíveis.

Em 1990, um automóvel fazia de zero a cem quilômetros em 14,5 segundos, em média. Hoje, leva nove segundos; em alguns casos, quatro.

O consumo só diminuiu ali onde os governos impuseram metas nesta direção: na Europa e no Japão.

Foi preciso esperar a crise de 2008 para que essas metas, pela primeira vez, chegassem aos EUA. Deborah Gordon e Daniel Sperling, em "Two Billion Cars" (Oxford University Press), mostram que se trata de um dos menos inovadores segmentos da indústria contemporânea: inova no que não interessa (velocidade, potência e peso) e resiste ao que é necessário (economia de combustíveis e de materiais).

Em segundo lugar, o planejamento urbano acaba sendo norteado pela monocultura carrocentrista. Ampliar os espaços de circulação dos automóveis individuais é enxugar gelo, como já perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades contemporâneas.

A consequência é que qualquer estratégia de crescimento econômico apoiada na instalação de mais e mais fábricas de automóveis e na expectativa de que se abram avenidas tentando dar-lhes fluidez é incompatível com cidades humanizadas e com uma economia sustentável. É acelerar em direção ao uso privado do espaço público, rumo certo, talvez, para o crescimento, mas não para o bem-estar.

Não se trata - terceiro ponto - de suprimir o automóvel individual, e sim de estimular a massificação de seu uso partilhado. Oferecer de maneira ágil e barata carros para quem não quer ter carro já é um negócio próspero em diversos países desenvolvidos, e os meios da economia da informação em rede permitem que este seja um caminho para dissociar a mobilidade da propriedade de um veículo individual.

Eficiência no uso de materiais e de energia, oferta real de alternativas de locomoção e estímulo ao uso partilhado do que até aqui foi estritamente individual são os caminhos para sustentabilidade nos transportes. A distância com relação às prioridades dos setores público e privado no Brasil não poderia ser maior.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vazamento de Petróleo na Bacia de Campos, Rio de Janeiro

 Bacia de Campos - Imagem capturada na Internet (Fonte: Último Segundo)

Graves danos ambientais, riscos à biodiversidade marinha, mentiras, dados incompatíveis com a situação real, perdas econômicas, negligência na segurança por parte da multinacional responsável... Esta é uma sinopse do vazamento de óleo (petróleo) que ocorre, desde o dia 08 de novembro, em um dos poços no Campo de Frade, na Bacia de Campos (RJ), litoral norte do estado, considerada a principal província petrolífera do país.
O referido poço situa-se a 370 Km do litoral do Rio de Janeiro e a uma profundidade aproximada de 1,2 mil metros.

 Imagem capturada na Internet (Fonte: Último Segundo)

Além do dano ambiental, em termos de poluição das águas e à biodiversidade marinha, o óleo pode chegar às praias de Ubatuba (SP), Arraial do Cabo e de Angra dos Reis (ambas no Rio de Janeiro) em duas semanas a um mês, segundo Carlos Minc, Secretário Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro.
O que mais irritou as autoridades brasileiras e, sobretudo, à Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi o fato da Chevron, empresa multinacional estadunidense, que tem a concessão para explorar petróleo no Campo de Frade ter mentido sobre as reais causas que provocaram o vazamento e ter ocultado informações e imagens sobre o mesmo.
De acordo com a primeira versão da referida multinacional, o vazamento de petróleo se deu em uma falha geológica, ou seja, sem a influência da atuação da petroleira. Mas, o próprio IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já comprovaram que o vazamento ocorreu por problemas no poço.
E a respeito disso, a empresa contratada - pela Chevron - para realizar os serviços de perfuração do poço foi a Transocean, a mesma que operava a plataforma da BP no Golfo do México, no ano passado, quando houve aquele grande vazamento de petróleo.
Carlos Minc afirmou que a pressão utilizada na perfuração (pela Transocean) foi além da determinada, ou seja, em desacordo com as características geológicas do fundo do mar da região.
De acordo com a legislação brasileira, a Chevron – por ter a concessão de exploração de petróleo na região – se torna a responsável pelos erros cometidos pelas companhias contratadas por ela, estando sujeita a vários tipos de multas e penalidades.
O Secretário do Ambiente, Carlos Minc, decidiu que vai descredenciar a Transocean para qualquer atividade de perfuração no estado, assim como declarou que vai solicitar ao presidente do IBAMA que a mesma medida se estenda em todo o território nacional com relação à atuação da referida empresa.
Inclusive, a própria Chevron corre o risco de ser proibida de operar no Brasil, por determinação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), devido à tentativa de ocultar informações precisas e imagens sobre o vazamento de petróleo.
O presidente da Chevron no Brasil, George Buck, afirmou que a companhia assumiu a total responsabilidade pelo acidente, alegando que houve uma subavaliação da pressão no reservatório de petróleo.
Conforme era previsto, além da multa do IBAMA - em R$ 50 milhões - por danos ambientais na costa (este valor pode subir para R$ 60 milhões), a empresa Chevron foi notificada das multas emitidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que é na ordem de R$ 100 milhões e por parte do governo estadual, também, estabelecida em R$ 100 milhões.
A Chevron já recebeu as autuações e declarou que vai analisar o assunto e decidir por quais medidas tomar.
O total de vazamento de petróleo ainda é uma questão polêmica, pois há divergências entre as informações prestadas tanto pela Chevron, pela ANP e pela ONG americana SkyTruth. A primeira confirmou, na 6ª feira passada (18/11), que o vazamento era equivalente a 882 barris. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), por sua vez, avaliou em entre 1 400 a 2 310 barris, enquanto a ONG americana SkyTruth estimou um saldo bem maior, de 15 mil barris.
Um barril de petróleo equivale a cerca de 159 litros do referido óleo.
Embora menor, o vazamento ainda continua. O poço recebeu cimentação na 5ªfeira passada (17/11), mas este continuou a apresentar derramamento de óleo. Está prevista, para esta semana, mais cinco etapas de cimentação no referido poço.

Fontes de Consulta
. Diário Democrático
. Exame.Com
. Jornal O Globo (impresso/várias edições)
. Revista Veja
. Último Segundo

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Por que as vacas e outros ruminantes produzem metano?



Fotógrafo: Igor Terekhov |
Agência: Dreamstime.com
Gás metano causa mais danos do que o dióxido de carbono.

Com o desenvolvimento da agricultura em larga escala, em meados do século 20, a lavoura tornou-se um grande negócio para muitas empresas. As terras ficaram consolidadas em grandes empreendimentos com muitos milhares de animais espalhados em uma grande quantidade de acres.

Inicialmente, as áreas de pasto foram preenchidas com uma variedade de grama e flores que cresciam naturalmente, oferecendo uma dieta diversificada para vacas e outros ruminantes. No entanto, para aperfeiçoar a eficiência da alimentação do gado, muitas dessas pastagens foram replantadas com azevém perene (em inglês). Com a ajuda de fertilizantes artificiais, o azevém perene cresce rapidamente e em enormes quantidades. Sua desvantagem é que ele não oferece o teor nutritivo de outras gramas e evita que outras plantas nutritivas possam se desenvolver. Um comentarista a apelidou de "fast food" das gramas [Fonte: Guardian%20Unlimited" (site em inglês) >Guardian Unlimited].

Essa simples dieta permite que muitas vacas sejam alimentadas, mas isso inibe a digestão. Uma dieta com azevém perene resulta também em uma quantidade significativa de vacas fracas e inférteis que têm de ser abatidas precocemente. É aqui que entra o metano. A grama difícil de ser digerida fermenta nos estômagos das vacas onde interage com micróbios e produz gás. Os detalhes exatos do processo ainda estão sendo estudados e mais informações podem fazer com que os cientistas consigam reduzir a produção de metano das vacas.


Um estudo da Universidade de Bristol comparou três tipos de pastos cultivados naturalmente com pastos de azevém cultivado com fertilizantes químicos. Carneiros foram alimentados com cada tipo de pastagem. A carne dos carneiros alimentados com pasto natural tinha menos gordura saturada (em inglês), mais ácidos graxos omega-3 (em inglês), mais vitamina E (em inglês) e níveis mais altos de ácido linoleico conjugado (CLA), uma "gordura benigna" que acredita-se que combata o câncer. A carne desses carneiros foi considerada de qualidade bastante alta e com boa pontuação nos testes de degustação.


Devido à preocupação com as dietas dos ruminantes, muitos pesquisadores estão investigando modos de alterar o que esses animais comem e misturar o melhor dos velhos pastos de gado - gramas e plantas diversificadas, de crescimento natural e ricas em nutrientes - com o melhor das novas - espécies de crescimento rápido e resistentes a pragas hostis. Uma possibilidade é aumentar a capacidade de plantas e flores benéficas, ricas em nutrientes, de crescerem juntamente com gramas de crescimento rápido geralmente usadas nos pastos. Uma outra linha de pesquisa se concentra em plantas que possuam um alto teor de tanino, o qual acredita-se que possa diminuir os níveis de metano em ruminantes e elevar a produção de leite, embora níveis excessivos de taninos possam ser danosos para o crescimento do ruminante.

Um estudo realizado por pesquisadores da Nova Zelândia recomenda o uso de plantas como o cornichão, que têm alto teor de ácido alfa linoleico, o que eleva os níveis de CLA. Plantar legumes e plantas geneticamente preparadas para captar o nitrogênio do ar também intensificará os níveis de nitrogênio do solo, o que é importante para um solo mais rico e plantas mais saudáveis.

Imagem cedida por Alden Pellett/Associated Press
Alguns produtores de laticínios usam sistemas de processamento para colher metano do estrume da vaca.
A energia é usada para movimentar a fazenda enquanto que o excesso é freqüentemente vendido para a rede elétrica local.
Os que acreditam em pastos com espécies misturadas e de crescimento natural, dizem que sua utilização reduzirá os gases estufa, aperfeiçoará a saúde do animal e a qualidade da carne, e reduzirá o uso de fertilizantes artificiais. Tentativas como pílulas para reduzir o metano ou a adição de alho podem ser apenas medidas temporárias que não conseguem resolver alguns dos principais problemas do gado, especialmente a poluição do ar e do solo, desmatamento das florestas, a produção de animais frágeis que deverão ser separados mais tarde e o uso de esteróides e fertilizantes artificiais.
Uma outra possibilidade é capturar o gás metano e usá-lo como energia ou vendê-lo para a rede elétrica. Alguns produtores também extraem metano de resíduos do gado, mas isso não resolve o maior problema do metano que é expelido. Utilizar esse metano significaria capturá-lo no ar, talvez confinando o gado em ambiente fechado ou provendo os animais com focinheiras especiais para que possam inibir a alimentação.

Maior estudo independente já feito confirma aquecimento do planeta
A maior revisão de dados históricos de temperatura já feita até hoje revelou que os mais importantes argumentos usados pelos chamados céticos do clima, os maiores críticos do aquecimento global, não alteram o fato de que o mundo está, mesmo, ficando mais quente.
Cientistas da Universidade da Califórnia, Berkeley, investigaram vários tópicos que, segundo os céticos, alterariam o quadro final que aponta para o aquecimento do planeta. E descobriram que nenhum dos dados tem um efeito significativo na conclusão geral de aumento de temperaturas.
Os cientistas do Projeto Terra compilaram mais de um bilhão de registros de temperatura desde 1800, de 15 fontes diferentes em diversos pontos do mundo, e concluíram que, em média, a temperatura em terra aumentou 1 grau Celsius desde meados dos anos 50.
O número bate com as estimativas sobre aquecimento global a que já tinham chegado os principais grupos que estudam o assunto, como os da Nasa, da Administração Nacional de Atmosfera e Oceanos dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) e o Met Office, no Reino Unido.
Jornal O Globo


Encontrado mecanismo que ativa supererupções vulcânicas

Uma supererupção vulcânica acontece na Terra a cada 100 mil anos em média e pode ser uma das maiores catástrofes naturais do planeta, perdendo apenas para o choque de um asteroide de grandes proporções. Os mecanismos que levam um sistema vulcânico aparentemente pouco ativo a uma explosão desta magnitude, no entanto, ainda são pouco compreendidos pelos cientistas.
Agora, no entanto, pesquisadores da Universidade de Oregon, nos EUA, apontam uma combinação da temperatura e do formato da câmara de magma como receita para a possível ocorrência destas supererupções. Segundo Patricia "Trish" Gregg, principal autora da pesquisa, a criação de um anel de rochas em torno da câmara de magma permite que a pressão se acumule por milhares de anos, resultando em uma elevação do teto sobre ela. Eventualmente, falhas no terreno acima entram em colapso e desencadeiam a erupção.
- Você pode comparar isso a rachaduras na casca de um pão enquanto ele infla - diz ela, que apresentou seu modelo esta semana durante reunião anual da Sociedade Americana de Geologia. - A medida que a pressão na câmara da magma aumenta, aparecem rachaduras na superfície para acomodar a expansão, eventualmente se propagando para baixo até a câmara. No caso de vulcões muito grandes, quando as rachaduras penetram fundo o bastante, elas rompem a câmara de magma, o teto dela entra em colapso e ocorre a erupção.
As erupções de super-vulcões podem levar a grandes alterações climáticas, dando início a idades do gelo e outros impactos. Um caso foi a de Huckleberry Ridge, no que é hoje o Parque de Yellowstone, nos EUA, a cerca de 2 milhões de anos, mais de 2 mil vezes mais poderosa que a erupção do Monte Santa Helena em 1980.
- Com exceção do impacto de um meteoro, essas supererupções são a maior ameaça ambiental que nosso planeta pode enfrentar - afirma. - Enormes quantidades de material são expelidas, devastando o meio ambiente e criando uma nuvem de gás e poeira que pode cobrir o globo por muitos anos.


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