domingo, 23 de novembro de 2014

Animação da Nasa mostra rotas do CO2 ao redor do planeta




21 novembro 2014 Atualizado pela última vez 11:50 BRST 13:50 GMT
Uma nova animação divulgada pela Nasa mostra como os gases de efeito estufa se comportam ao longo de um ano.
O modelo evidencia que a concentração do gás carbônico ocorre na América do Norte, Europa e norte da Ásia.
Cerca de metade do dióxido de carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis permanece na atmosfera; a outra metade é absorvida por plantas e pelos oceanos.
A animação permite ver ainda que os gases não ficam parados, mas se dispersam seguindo padrões climáticos.
A presença dos gases diminui na primavera e no verão do hemisfério norte, quando as plantas absorvem gás carbônico no processo de fotossíntese.
O vídeo usa imagens de 2006. Segundo a agência espacial americana, as concentrações de gás carbônico na atmosfera aumentam ano a ano - o que contribui para o aumento das temperaturas globais.

Grã-Bretanha testa 1º ônibus movido a fezes e lixo


Ônibus Biobus, movido a biometano produzido com fezes e lixo
Um ônibus movido a fezes e lixo já está rodando entre as cidades de Bristol e Bath, na Grã-Bretanha.
O chamado Bio-Bus tem 40 assentos e opera com gás biometano, gerado a partir do tratamento de esgoto e lixo doméstico. O veículo ecológico pode rodar até 300 quilômetros com um tanque de gás, que é produzido a partir do lixo anual de cinco pessoas.
Seu motor tem um design similar ao dos motores convencionais. No entanto, o diferencial está na contrapartida ecológica: o ônibus emite 30% menos dióxido de carbono se comparado aos movidos a diesel.
A linha é operada pela Bath Bus Company e vai do aeroporto de Bristol ao centro de Bath - um serviço que transporta cerca de 10 mil passageiros por mês.

Esgoto




BioBus, movido a biometano produzido por lixo e fezes
Gás biometano é gerado a partir do tratamento do esgoto da cidade de Bristol

gás biometano usado pelo ônibus é gerado a partir do tratamento do esgoto de Bristol. O composto é resultado da digestão anaeróbica das bactérias (quando esses microorganismos quebram a matéria orgânica em ambientes sem oxigênio).
Mas para se tornar combustível para o veículo, o biogás ainda tem de ser "turbinado". Nesse processo, o dióxido de carbono é removido e o gás propano é adicionado. A cidade processa cerca de 75 milhões de metros cúbicos de esgoto e 35 mil toneladas de lixo doméstico por ano. Apenas o lixo anual de uma pessoa (tanto o descarte de alimentos quanto o esgoto) gera combustível para o ônibus rodar 60 quilômetros. 
Segundo Collin Field, da Bath Bus Company, o lançamento do ônibus agora é bastante apropriado, já que Bristol será a Capital Verde da Europa no ano que vem.
Publicado em BBC Brasil

sexta-feira, 7 de março de 2014

Por que a crise na Ucrânia é importante?

Natalio Cosoy
BBC Mundo

Depois da trégua entre governo e oposição durar menos de um dia, manifestantes voltaram às ruas 


Ao mesmo tempo que ameaçam a Ucrânia com sanções, Estados Unidos e União Européia pedem paz e diálogo. Enquanto isso, o presidente russo Vladimir Putin liga para o presidente ucraniano Viktor Yanukovych enquanto lhe envia dinheiro e baixa o preço do gás vendido ao país. Por fim, o vice-presidente americano, Joe Biden, também chama Yanukovych para que pedir que ele não reprima os manifestantes. O que é que a Ucrânia tem para que todos esses atores da cena política global estejam tão dispostos a agir? 
Para muitos, o país é o vértice geográfico onde se disputa uma nova versão da Guerra Fria. 

O conflito na Ucrânia já deixou ao menos 40 mortos e centenas de feridos nos últimos dias. Os choques entre manifestantes e a polícia se tornaram constantes, especialmente na capital, Kiev. E uma recente tentativa de trégua fracassou. 
Tudo começou em novembro, quando Yanukovych decidiu recusar um acordo que aprofundaria os laços do país com a União Europeia (UE) e era negociado havia três anos. Em troca, o presidente preferiu se aproximar da Rússia. Ou tudo teria começado antes? 

Durante quase todo o século 20, a Ucrânia fez parte da União Soviética, até sua independência em 1991. 
Desde então, o país passou a olhar em uma outra direção, do Oriente para o Ocidente, da Rússia para a União Europeia, tendo os exemplos de Polônia, Eslováquia e Hungria - todos membros da União Europeia – em seu horizonte. Mas a Ucrânia não completa esse movimento porque duas forças contrárias o paralisam. 
De um lado, está a parte ocidental do país, onde vivem as gerações mais jovens e de onde partiu o movimento de aproximação da UE. Do outro, está a parte oriental e sul, mais próxima da Rússia, onde se fala russo e não ucraniano e prevalece um sentimento de nostalgia dos anos de integração soviética. Por fim, de cada um desses lados, existem os interesses e pressões de grandes potências mundiais. 

Datas importantes 
21 de novembro de 2013: a Ucrânia suspende as preparações de um acordo comercial com a União Européia; Começam os protestos. 
30 de novembro de 2013: a polícia de choque age contra os manifestantes, deixando dezenas de pessoas feridas e intensificando a tensão no país. 
17 de dezembro de 2013: a Rússia concorda em comprar títulos do governo da Ucrânia e em baixar os preços do gás vendido ao país. 
25 de dezembro de 2013: há novos protestos depois que a jornalista e ativista contrária ao governo Tetyana Chornovol fica ferida. 
19 de janeiro de 2014: os protestos ficam mais violentos; Manifestantes colocam fogo em ônibus da polícia e lançam coquetéis molotov, enquanto os policiais respondem com balas de borracha, gás lacrimogênio e canhões d’água; Vários morrem nos dias seguintes. 
18 de fevereiro de 2014: o dia mais sangrento dos protestos, com a morte de vários manifestantes e policiais.A Ucrânia depende da Rússia para abastecer-se de gás. Além disso, por seu território passam dutos que transportam os gás russo para a União Europeia. 

Muitos analistas acreditam que a crise do gás ocorrida entre 2006 e 2009 foi uma consequência das tensões políticas que já existiam na época na Ucrânia, em razão da divergência quanto a aproximar-se da União Europeia ou da Rússia. 
Essas tensões estavam no coração da Revolução Laranja de 2004, na qual o atual presidente Viktor Yanukovych perdeu poder enquanto líderes mais favoráveis ao Ocidente, como os políticos Viktor Yaschenko e Yulia Tymoshenko, subiram ao poder. 

Mas esse políticos não conseguiram satisfazer as expectativas populares, o que levou Yanukovych a ganhar as eleições de 2010. 
“Eram corruptos, incompetentes. Então as pessoas votaram em Viktor Yanukovych”, disse Edward Lucas, editor internacional da revista The Economist e autor do livro “A Nova Guerra Fria: a Rússia de Putin e sua ameaça ao Ocidente”, ao programa PM da Rádio 4 da BBC. 

“Infelizmente, isso abriu a porta para a Rússia, e a Rússia forçou a Ucrânia a recusar o acordo comercial com a União Europeia e levou a Ucrânia para o seu lado”, acrescentou Lucas. 
Em uma reunião em 17 de dezembro de 2013 entre Putin e Yanukovych, a Rússia se comprometeu a comprar o equivalente a R$ 36 bilhões em títulos do Estado ucraniano e a reduzir o preço do gás vendido ao país. 


Vladimir Putin (dir.), presidente da Rússia, vê na Ucrânia do presidente Yanukovych uma parceira estratégica 

A Rússia é o principal parceiro comercial da Ucrânia. Em 2012, segundo informações oficiais, as exportações do país para a Rússia foram de R$ 165 bilhões, enquanto as importações vindas da Rússia somaram R$ 203 bilhões. 
Ao mesmo tempo, a UE representa um terço do comércio exterior da Ucrânia. 

Em 2012, o país exportou R$ 48 bilhões para o bloco, do qual comprou produtos e serviços num valor total de R$ 78 bilhões, segundo números da Comissão Europeia. A maioria das exportações ucranianas para o bloco são beneficiadas por um sistema de isenções tarifárias. 

Mas, para Mark Mardell, editor da BBC para a América do Norte, o assunto vai além do comércio exterior. “A batalha pela Ucrânia é sobre a influência e o alcance do Ocidente no mundo”, diz. 
“Desde a queda da União Soviética, a Rússia se enfraqueceu perante o Ocidente”, afirma Mandell. “Não apenas ex-aliados como Polônia ou República Tcheca hoje são parte da UE, mas também ex-membros da URSS, como Lituânia e Letônia, se uniram ao bloco. E agora um aliado histórico russo, a Sérvia, decidiu fazer o mesmo.” 


O chanceler russo criticou a "interferência" do Ocidente na crise da Ucrânia

A Rússia não pretende dar o braço a torcer em relação à Ucrânia. O chanceler russo Sergei Lavrov disse nos últimos dias: “Muitos países ocidentais tentam interferir de todas as formas, encorajam a oposição a agir ilegalmente, até mesmo flertam com os militantes, dão ultimatos, ameaçam com sanções”. 

Já em 2010, a Ucrânia firmou com a Rússia um acordo que determinou um desconto de 30% no gás russo vendido ao país. Em troca, a Ucrânia estendeu por 25 anos o arrendamento da cidade de Sebastopol, no Mar Negro, onde a Rússia tem uma importante base naval. 
Os manifestantes contrários a Yanukovych acreditam além de tudo que o presidente está encaminhando o país rumo à sua inclusão na União Euroasiática, uma união alfandegária impulsionada por Putin, da qual fazem parte a Bielorrússia e o Cazaquistão. Tanto Putin quanto Yanukovych negam essa acusação. 

Lucas, da The Economist, acredita que Putin e sua equipe no Kremlin “nunca aceitaram os termos do acordo de 1991, após o colapso da União Soviética”. “Eles querem recuperar uma parte da Europa que eles acreditam pertencer a eles, ser parte de sua esfera de influência”. 
Se isso acontecesse, isso “pode abalar o fornecimento de gás e petróleo da Europa”, diz. 

“O oeste do país não aceitará o mando de Moscou ou de Kiev, se for em nome de Moscou; eles travaram uma disputa de guerrilha por dez anos entre 1945 e 1955, que foi esmagada brutalmente por Stalin”. 
Tanto Lucas quanto Mardell, da BBC, enxergam uma falta de firmeza nas posturas da União Europeia e dos EUA. Para Mardell, a “Europa exibe fraquezas”, e “Barack Obama dá a entender que não se interessa pelo que acontece no exterior”. 

“O som mais inquietante nas ruas de Kiev não é o dos tiros ou das explosões, mas o do silêncio”, disse Steve Rosenberg, enviado da BBC à Ucrânia, na última quarta-feira no rádio. 
No centro da cidade, não havia automóveis, apenas pessoas caminhando pelas calçadas. 
Era como se as coisas estivessem em suspenso, o ar parado, à espera de uma definição, se o país irá pender para o leste ou para o oeste.
BBC Brasil

Supervulcão de Yellowstone é 2,5 vezes maior que se pensava, diz estudo.

Rebecca Morelle 

Repórter de Ciência da BBC 
Lagos de água quente são provas da magma quente que está abaixo da superfície em Yellowstone


Um "supervulcão" que está abaixo do solo no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, é muito maior do que se pensava inicialmente, segundo um estudo. 

A pesquisa mostra que a câmera de magma é 2,5 vezes maior do que o apontado por um levantamento anterior. A caverna teria 90 quilômetros de largura e algo entre 2 e 15 quilômetros de altura, com 200 a 600 quilômetros cúbicos de rocha fundida. 

Os dados foram apresentados durante um encontro da Sociedade Americana de Geofísica, de São Francisco. 

"Nós estamos trabalhando lá há muito tempo, e sempre pensamos que ele poderia ser maior. Mas esta descoberta é estarrecedora", diz Bob Smith, pesquisador da Universidade de Utah. 

Caso o supervulcão de Yellowstone entrasse em erupção, as consequências poderiam ser catastróficas. Na última vez que isso aconteceu – há 640 mil anos –, ele espalhou cinzas por todo o continente da América do Norte, afetando o clima do planeta. 
Próxima erupção 

Os cientistas acreditam que, com o novo estudo, passam a ter informações mais precisas sobre o supervulcão. 

Eles usaram uma rede de sismógrafos espalhados pelo Parque Nacional para tentar mapear o conteúdo da câmera de magma. 

"Nós registramos terremotos no Yellowstone e arredores e medimos as ondas sísmicas na medida em que passam pelo solo. As ondas viajam mais lentamente por material quente e fundido. Assim conseguimos medir o que está abaixo do solo", diz o pesquisador Jamie Farrell, também da Universidade de Utah. 

Smith explica que apesar de o tamanho ser muito maior do que o medido em outros estudos, isso não aumenta os riscos para a fauna no Parque Nacional. 

Ele disse também que não há forma de prever quando o supervulcão voltará a entrar em erupção. 

Alguns acreditam que o vulcão deveria entrar em erupção a cada 700 mil anos, mas Smith acredita que é preciso coletar mais dados para sustentar essa teoria. Até agora, os cientistas só têm informações sobre três erupções passadas do supervulcão, ocorridas há 2,1 milhões, 1,3 milhão e 640 mil anos. 

É apenas com base nestes registros que eles estimam esse intervalo de cerca de 700 mil anos entre erupções.
BBC Brasil

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Novo tipo de vegetação brasileira.

IBGE classifica novo tipo de vegetação brasileira
Floresta Estacional Sempre-Verde pode ser encontrada no Mato Grosso e é caracterizada por não perder suas folhas, mesmo em épocas de seca
Clara Nobre de Camargo

Interior da Floresta Estacional Sempre-Verde das Terras Baixas, parcialmente alterada (MT)
Foto: IBGE/Divulgação

Entre cerrado, caatinga, florestas ombrófilas e tantas outras formações da flora brasileira, em 18/01/2013, terça-feira, um novo tipo vegetação passou a fazer parte do nosso Sistema de Classificação de Vegetações. A Floresta Estacional Sempre-Verde, que pode ser encontrada principalmente no Estado do Mato Grosso, foi oficializada no Manual Técnico da Vegetação Brasileira, lançado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Elaborado por uma equipe técnica de especialistas no assunto, o estudo descreve esta vegetação como possuindo baixa riqueza de espécies, se comparada com os tipos florestais próximos, apesar de permanecer, como diz seu nome, sempre verde, mesmo nos períodos de estiagem. Nas áreas mais baixas é possível encontrar uma grande exuberância das plantas, com árvores de 30 a 40 metros de altura, de troncos largos.

“A vegetação da Floresta Estacional Sempre-Verde é constituída por espécies essencialmente amazônicas que revelam ausência ou baixa decidualidade (perda de folhas) durante o período de estiagem”, coloca o manual. Ela pode se mesclar com florestas ombrófilas, savanas e caatingas, dependendo do seu local de ocorrência.
HORIZONTE GEOGRÁFICO

Elevação dos mares ameaça a Flórida

NICK MADIGAN
DO "NEW YORK TIMES"

De acordo com as previsões mais pessimistas, as belas ilhas, comunidades e praias do sul da Flórida podem desaparecer em apenas cem anos, devido à elevação das águas do mar. Mais para o interior, a região pantanosa de Everglades, que garante o suprimento de água doce da região, pode um dia ser contaminada pelo avanço do mar. E o arquipélago de Florida Keys, que se estende para dentro do golfo do México, será quase inteiramente submerso. 

"Acho que as pessoas não entendem como a Flórida é vulnerável", disse Harold R. Wanless, presidente do departamento de ciências geológicas da Universidade de Miami. "Até o final do século, teremos quatro, cinco ou seis pés de água, ou mais. É preciso acordar para a realidade que está por vir."

A preocupação com a elevação do mar está levando governos locais a entrar em ação. Com população conjunta de 5,6 milhões de habitantes, os condados de Broward, Miami-Dade, Monroe e Palm Beach formaram uma aliança para procurar soluções.

A Flórida, que sempre foi fustigada por furacões e enchentes, é o Estado americano mais vulnerável à elevação do nível do mar. Mesmo previsões mais conservadoras que as do professor Wanless consideram que a maior parte da região costeira baixa da Flórida será sujeita a inundações cada vez mais frequentes, à medida que o degelo das calotas polares se acelerar e que os oceanos subirem de nível e avançarem terra adentro.

Boa parte dos 1.900 km de litoral da Flórida fica pouco acima do nível atual do mar. Construções, estradas e outros elementos de infraestrutura que valem bilhões de dólares têm seus alicerces sobre calcário, que solta água como uma esponja.

Até agora a questão não chamou muito a atenção dos parlamentares estaduais e parece ser igualmente ignorada por segmentos da comunidade que têm interesse financeiro em proteger a dinâmica economia do sul da Flórida.

"A maioria dos empresários está alheia ao problema", disse Wayne Pathman, advogado de Miami especializado no uso da terra. Em última análise, disse ele, o indicador mais forte da crise será a recusa das seguradoras em cobrir riscos em áreas costeiras.

"As pessoas tendem a subestimar a gravidade do que pode acontecer aqui", disse Ben Strauss, diretor do Programa de Elevação do Nível do Mar da organização científica independente Climate Central. Para ele, os efeitos sobre o valor dos imóveis podem ser devastadores. Suas pesquisas mostram que há imóveis no valor de US$ 156 bilhões em terrenos situados menos de um metro acima da linha da maré alta na Flórida.

O professor Wanless acha que a única saída é estudar medidas como uma moratória sobre as construções em áreas costeiras e obrigar os moradores dessas áreas a se mudarem para o interior.

Mas, para Charles Tear, coordenador de emergências de Miami Beach, "o céu não está caindo, embora o nível da água esteja subindo". Tear revelou que ele e outros administradores de Miami Beach se pautam pela previsão mais conservadora, segundo a qual o nível do mar subirá até 38 centímetros nos próximos 50 anos.

"Não podemos pensar nos próximos cem anos", explicou. "Temos que ser realistas."
Folha de S. Paulo 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quem é o dono do Ártico?

O território gelado guarda nada menos do que 400 bilhões de barris de petróleo. E todo mundo quer beliscar um pedaço desse tesouro

Texto Pedro Dória
Nas contas da respeitada consultoria da área de energia Wood Mackenzie, há 400 bilhões de barris de petróleo no círculo polar ártico. Não custa comparar, o megacampo de Tupi, anunciado em novembro último pela Petrobras, tem até 8 bilhões de barris. E essa brutal quantidade inexplorada de combustível no Ártico é um problema. Primeiro, porque gera a tentação de explorar; segundo, porque não é tão claro quem manda naquelas águas; terceiro, pelo aquecimento global.
Em julho, a Rússia pediu à ONU que incluísse em seu território 119 395 km2 do Pólo Norte. O Pólo Norte não é como o Sul: não há terra para além de Europa, Ásia e América do Norte. O que há no topo do mundo é água fresca congelada. Dessa forma, a regra que rege a área é a Lei do Mar, um tratado internacional de 1982 assinado por todos os países cujos territórios ultrapassam o círculo polar ártico com exceção dos EUA.
         
             
                                         Imagem retirada do site: planetasustentavel.abril.com.br
Os EUA vão assiná-lo. Em 2007, o Senado do país aprovou sua inclusão, embora ainda existam trâmites a seguir. Como a aprovação veio a pedido do presidente George W. Bush, a sanção da Casa Branca é garantida.
O que a Lei do Mar determina é que todo país tem o direito de controlar até 200 milhas de distância de sua costa – equivalente a 370 quilômetros. O dilema é determinar onde tem início a costa. Se um país prova que sua crosta submersa vai além das 200 milhas, conta a partir dali. Mas há um prazo para a requisição – e, portanto, há uma corrida em jogo.
A alegação russa é de que a cordilheira de Lomonosov, que se estende por baixo do oceano Ártico ocupando quase metade do círculo polar, tem início na plataforma continental asiática. Ou seja, da Rússia. A alegação é antiga – a diferença, agora, é que o russos têm um extenso relatório composto por uma expedição a bordo de um submarino nuclear.
Mas, antes que Moscou possa anexar um naco do Ártico equivalente ao tamanho de França, Alemanha e Itália somadas, dois órgãos precisam ratificar o processo. O primeiro é a ONU, responsável por moderar quaisquer dúvidas a respeito da Lei do Mar. O segundo é o Conselho Ártico. Nele, além dos russos, sentam-se também Canadá, EUA, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia – os 8 que têm territórios para além do círculo.
E isso é um problema. Embora não haja provas científicas, a cordilheira de Lomonosov provavelmente faz parte também da plataforma continental americana – e, seguindo o raciocínio russo, os canadenses poderiam requerer para si a mesma metade do pólo. Aliás, eles já fizeram um requerimento não tão ambicioso, mas ainda assim grande. Como o fizeram também Noruega e Dinamarca e como pretende fazer, segundo o Washington Post, os próprios EUA, tão logo ratifiquem o tratado.
Em jogo, afinal, estão 400 bilhões de barris de petróleo e uma quantidade igualmente dantesca de gás natural. Aquela é a região mais difícil de extração que há – apresenta um problema delicado de engenharia e condições inumanas para habitação. Além do círculo polar, faz sol quase o dia todo no verão e o inverno é noite quase contínua. A vegetação mal cresce e são poucos os animais que sobrevivem. A maior cidade além do círculo é Murmansk, na Rússia, com 325 mil habitantes. A 2a maior, Norilsk, tem 135 mil – e por aí vai. Plataformas petroleiras para muito além do continente – que é mesmo onde ficariam – seriam desumanas.


                        Imagem retirada do site: brasilsoberanoelivre.blogspot.com
A confirmar-se a previsão da Wood Mackenzie, de que há mais gás do que petróleo, o problema fica ainda mais difícil. Petróleo leva-se de navio. Para gás, é preciso ou uma usina de liquefação flutuante – que custaria um preço extorsivo – ou um gasoduto, que é impossível de construir sem que o impacto sobre o ambiente, a fauna e a flora seja grande.
O irônico, certamente, é que o Conselho Ártico foi criado em 1996 com um discurso um bocado diferente. O propósito era dividir a responsabilidade pelo derretimento da água fresca que, um dia, congelou no pólo. A mesma água que, uma vez derretida em consequência do aquecimento global, mudará as correntes, cobrirá Amsterdã e carregará consigo o clima da Terra. Aquecimento esse, como costuma sugerir a própria ONU, causado pelo excesso de queima de combustíveis fósseis. Esses mesmos que sonha-se retirar do Ártico.


Ártico - 400 bilhões*
Arábia Saudita - 262,7 bilhões*
Canadá - 178,9 bilhões*
Irã - 132,5 bilhões*
Iraque - 112,5 bilhões*
Emirados Árabes - 97,8 bilhões*
Venezuela - 75,27 bilhões*
Rússia - 74,4 bilhões*
EUA - 22,45 bilhões*
Brasil - 12,22 bilhões
União Européia - 7,33 bilhões*

*Barris

Fonte: World Factbook da CIA - órgão oficial dos EUA.