quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sandy: ganhou a alcunha de "tempestade perfeita"


O Sandy em ação, em imagem da Nasa divulgada esta terça-feiraDIVULGAÇÃO
Aquecimento global aumenta potência de furacão
Encontro com frente fria e pressão baixa fizeram de Sandy a ‘tempestade perfeita’

Os ventos e chuvas que paralisaram Nova York, chegando mesmo a provocar nevascas em partes da Costa Leste americana devem parte de sua intensidade ao aquecimento global. Segundo o Centro Nacional para a Investigação Atmosférica dos EUA o aumento da temperatura do planeta contribui para que um furacão como o Sandy veja sua força crescer em até 10% — o suficiente para ampliar os estragos em 60%. E ainda há fatores atípicos para que o Sandy ganhe a alcunha de “tempestade perfeita” (ou “perfect storm”).

Outro levantamento americano, este assinado pelo Instituto de Estudos Oceanos e Atmosféricos (Noaa), já mostrava como o aquecimento global pode alimentar os furacões. Estes fenômenos climáticos serão mais escassos, embora mais intensos. Os remanescentes serão, na maioria das vezes, justamente os furacões de categoria 4 e 5, como o Katrina, que deixou cerca de 1.800 mortos em Nova Orleans (EUA) em 2005. A explicação está na temperatura da água, mais quente, no maior volume de chuvas e nas ondas maiores.

Ao lado do Katrina, o Sandy parece tímido — era um furacão de categoria 1, rebaixado a tempestade tropical. Mas há uma série de fatores que farão o novo furacão ser estudado nos próximos anos. Para além da questão do aquecimento global, Sandy é uma “tempestade perfeita”, fenômeno só visto anteriormente uma vez, exatamente há 21 anos, quando o termo foi cunhado, também no Atlântico Norte.

Dessa vez, no entanto, a tempestade avançou para uma área muito maior.

— A região afetada, além do litoral de Massachussetts a Maryland, avança até o interior do país, chegando a Illinois, no Centro-Oeste — descreve a astrônoma Duilia de Mello, do Goddard Space Flight Center, da Nasa. — O Sandy é interessante porque, ao vir pelo Atlântico e se aproximar do continente, ele bateu de frente com uma frente fria. A pressão atmosférica baixou, aumentando a precipitação e deixando os ventos mais fortes. Uma conjunção como essa só havia sido vista antes em 1991, e sobre o oceano. É algo totalmente atípico.

A frente fria, que vem do Canadá, é ainda mais intensa em regiões ao norte de Nova York, onde já neva intensamente, no local em que a tempestade se encontrou com a frente fria. A passagem do Sandy por estes locais, se ele não se dissipar, poderia causar mais inundações e neve.

— A temporada de furacões vai até 30 de novembro, mas este ano, à exceção do Sandy, não foi intenso — pondera Duilia. — No Sul, onde passou o Katrina em 2005, nada demais até agora.

O Katrina, quando chegou a Louisiana, principal cenário da tragédia, passou pela Flórida ainda como um furacão de categoria 1. Ele se alimentou das águas quentes do Golfo para tornar-se um fenômeno 5. É para que casos como esse não se repitam que meteorologistas pedem urgência na redução das emissões de CO2 na atmosfera. A água mais quente evapora mais, aumentando o volume das tempestades.

A Noaa previu, em 2010, que as tempestades serão 20% maiores a até 100 quilômetros do olho de um furacão, considerando um cenário em que a temperatura da Terra aumentará em 2,8 graus Celsius — o que já é dado como certo até o fim do século pelos climatologistas. Se o Sandy tornar-se regra, em vez de exceção, este cálculo será atingido bem antes.
Jornal O Globo

Setembro tem recorde de calor e de gelo na Antártida


Nasa/AFP
Imagem do gelo antártico tirada pelo satélite Aqua, da NASA

DA REUTERS

O mês passado foi o setembro mais quente já registrado na Terra, dizem cientistas de uma agência governamental americana que estuda o clima e o oceano.

A média da temperatura global dos continentes e dos oceanos no mês passado foi de 15,67º C ou 0,67º C acima da média geral do século 20.

A temperatura média global só dos continentes em setembro foi a terceira mais quente já registrada para esse mês.

A Rússia central, o Japão, o oeste da Austrália, o norte da Argentina, o Paraguai, o oeste do Canadá e o sul da Groenlândia tiveram temperaturas maiores que a média em setembro, enquanto o leste da Rússia, o oeste do Alasca, a África do Sul, grande parte da China e partes do Centro-Oeste superior e sudeste dos Estados Unidos registraram temperaturas notavelmente abaixo da média.


POLOS OPOSTOS

A cobertura de gelo no Ártico atingiu seu menor nível histórico no último mês, enquanto a Antártida registrou sua maior cobertura de gelo na história.

"A magnitude dos recordes em cada região (ártica e antártica) é muito diferente", diz Deke Arndt chefe do monitoramento climático da agência americana. "O Ártico está deixando todos os recordes para trás, não existem superlativos suficientes para descrever o que vem acontecendo lá nos últimos cinco ou seis anos".

Para contextualizar o atual recorde negativo de gelo no Ártico, basta comparar com o último recorde, registrado em 2007, quando especialistas disseram que a queda na cobertura de gelo no Polo Norte era "assombrosa" e um sinal claro da aceleração do aquecimento global.

Portanto se o recorde de gelo na Antártida é o "rei do pedaço", diz Arndt, "o recorde que o Ártico vem construindo é totalmente diferente. A mudança é maior, mais rápida e está estabelecendo novas características na região".

As condições do Ártico são importantes, já que a região é às vezes chamada de "ar condicionado da Terra" por sua capacidade de influenciar a temperatura no planeta.

O aumento do gelo antártico, apesar de contraintuitivo, é devido a mudanças no padrão dos ventos, o acaba que empurrando o gelo do mar para fora, aumentando a sua extensão.

"Um mundo mais quente pode ter consequências complexas e às vezes surpreendente ", disse pesquisador Ted Maksym, de um navio de pesquisa australiano cercado por gelo marinho da Antártida.

David Vaughan, da Pesquisa Antártica Britânica diz que "sim, o que está acontecendo na Antártica tem as impressões digitais da atuação humana nas mudanças climáticas."
Folha de S.Paulo