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Sementes carregadas em mochilas de turistas e pesquisadores pode alterar ecossistema do continente gelado
Pauline AskinSementes e plantas que cientistas e turistas levam à Antártida “por engano” podem introduzir espécies estranhas ao local, o que representa uma ameaça ao frágil equilíbrio do ecossistema e à sobrevivência de plantas nativas.
Essa flora invasiva está entre as ameaças à conservação mais significativas na Antártida, principalmente com a mudança climática que aquece o continente gelado. É o que mostra um artigo publicado terça-feira (06) no Proceedings of the National Academy of Sciences.
Mais de 33 mil turistas e 7 mil cientistas visitam a Antártida todos os anos, chegando em navios ou aeronaves. E uma pesquisa que durou dois meses descobriu que muitas dessas pessoas carregam sementes de plantas coletadas em outros países já visitados.
No estudo, o conteúdo de bolsos, calças, punhos, sapatos e o interior das malas dos visitantes foi aspirado e pinças foram usadas para extrair sementes escondidas acidentalmente. Em média, cada pessoa verificada trazia 9,5 sementes nas roupas e na bagagem.
“As pessoas que estavam mais carregadas levavam uma infinidade de sementes, que constituíam ameaças substanciais”, relata Dana Bergstrom, da Australian Antarctic Division.
“Quando levamos 'caronas', temos espécies que são competitivas. As plantas e animais nativos não são necessariamente competitivos, então existe sério risco de perdermos parte da preciosa biodiversidade do continente antártico”, advertiu Dana à Reuters. Entre as espécies invasoras descobertas, havia a papoula da Islândia, o capim-lanudo e gramíneas anuais de inverno, todas de climas frios e capazes de crescerem na Antártida.
A península antártica, que a maioria dos turistas visita, é um destino em voga no continente gelado e quanto mais aquecido o clima, mas fácil para as sementes se propagarem. “A taxa de aquecimento da península está entre as maiores do planeta”, lamenta Dana.
A pesquisa – primeiro levantamento abrangente do continente de espécies invasivas – envolveu cerca de mil passageiros e foi feita entre 2007 e 2008, o primeiro ano do Ano Internacional Polar, um esforço internacional que visa pesquisar regiões polares. Os resultados foram publicados somente agora porque os cientistas necessitarem de quase três anos para identificar as espécies de sementes e os efeitos no continente gelado.
Dana afirma que uma semente invasora que se aclimatou foi a grama anual de inverno, uma erva daninha disseminada na sub-Antártida e na ilha King George e que quase alcançou a cauda do continente. “É apenas um exemplo de ervas daninhas que encontramos com ocorrência nas duas últimas estações”, continuou ela.
A gramínea anual de inverno cresce muito bem em áreas reviradas, como nas ocupadas por focas e pinguins, e poderia se propagar entre o musgo de crescimento lento, cercando-o. “Caso se instale naquelas áreas da península, teremos grande potencial de devastação das plantas locais”, concluiu Dana.
Scientific American Brasil
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