Separação do novo país com o Sudão foi definida em janeiro, em um referendo no qual 99% das pessoas que votaram apoiaram a divisão
BBC Brasil
Foto: AP
Com a bandeira do novo país, homem comemora a independência do Sudão do Sul pelas ruas de Juba
O Sudão do Sul é o mais novo país do mundo, após ter oficializado sua independência em relação ao Sudão. A separação foi definida em um referendo realizado em janeiro, quando 99% dos votantes apoiaram a divisão do país, marcado por conflitos sectários. Entenda os fatores envolvidos na separação:
Por que a maioria dos cidadãos do sul quer um país independente?
Assim como no restante da África, as fronteiras do Sudão foram desenhadas por potências coloniais pouco preocupadas com as realidades étnicas e culturais da região. Enquanto o Sudão do Sul tem uma paisagem repleta de selvas e pântanos, o norte é mais desértico.
A maioria da população do norte é muçulmana e fala árabe; o sul é composto de vários grupos étnicos, de maioria cristã ou animista. Com o governo centralizado no norte, em Cartum, a população no sul se dizia discriminada e rejeitava tentativas de imposição da lei islâmica no país. Os dois lados lutaram entre si durante a maior parte de sua história.
O que acontece após a independência?
Agora é que começa o trabalho duro. Norte e sul ainda têm de chegar a um acordo em relação a temas como:
- Traçado da nova fronteira e como ela será controlada
- Como dividir a dívida do Sudão e os royalties do petróleo do novo país
- Que moeda será adotada pelo novo país
- Que direitos os sulistas terão no norte, e vice-versa
A verdade nua e crua é: não. Após viver anos em guerra e desdenhado pelo governo central, o novo país - que é maior do que Espanha e Portugal juntos - quase não tem estradas; também faltam escolas e serviços de saúde para a população de cerca de 8 milhões.
Apesar de seu potencial para a agricultura, 95% das receitas do novo país vêm do petróleo. "A vida no Sudão do Sul provavelmente será precária nos anos futuros", disse à BBC o analista especializado em Sudão Douglas Johnson.
Os ex-rebeldes do grupo SPLM, que têm controlado a região desde 2005, ganharam alguma experiência em governabilidade e lucram com os poços de petróleo do sul sudanês. Também elaboraram planos ambiciosos para desenvolver suas cidades e realizaram um concurso para a composição do hino nacional.
Mas críticos dizem que, até agora, o grupo desperdiçou muito desse lucro em gastos militares, e pouco em medidas que aumentem o padrão de vida em uma das regiões mais pobres do mundo.
Também há acusações de corrupção, autocracia e favorecimento tribal. Alguns dizem que o SPLM é dominado por membros do maior grupo étnico do Sudão do Sul, os dinkas, acusados de ignorar as demandas de outras comunidades - em especial da segunda maior etnia da região, os nuer.
Um observador da situação sudanesa disse à BBC, em condição de anonimato, que "não me surpreenderia se o Sudão do Sul se tornasse uma nova Eritreia". Em 1993, os eritreus votaram maciçamente em favor da independência da Etiópia. Atualmente, a Eritreia é considerada uma das nações mais opressivas do continente.
Como Cartum vê a independência do sul?
Nesta sexta-feira, o governo do presidente sudanês, Omar al-Bashir, reconheceu formalmente a independência da parte sul de seu país. Mas, desde o referendo de janeiro, regiões na fronteira entre sul e norte, como Abyei e Kordofan do Sul, têm vivido uma onda de confrontos, levantando temores de uma nova guerra.
Os dois lados assinaram diversos acordos de paz, mas as tensões permanecem. O SPLM acusa o governo sudanês de financiar rebeliões, para desestabilizar o Sudão do Sul, mas Cartum nega as acusações. Ainda que o novo país esteja tentando forjar laços com países como Uganda e Quênia, manter boas relações com o vizinho do norte será crucial.
O que acontecerá com o norte?
A prioridade para Cartum, agora, é tentar manter para si o máximo de lucros originados da produção de petróleo do país. Ao mesmo tempo em que a maioria dos poços fica no Sudão do Sul, o norte tem a maioria dos oleodutos que escoam o combustível para o mar Vermelho. A fronteira entre o sul e o norte, rica em petróleo, ainda não foi demarcada, então existe a possibilidade de que ocorram disputas pelo controle dos poços.
No que diz respeito à vida dos cidadãos comuns, ambos os lados concordaram em permitir que todos os sudaneses - em especial os sulistas radicados em Cartum - escolham qual nacionalidade terão. Mas os planos de Bashir de implementar uma rígida versão da sharia (a lei islâmica) no norte do país pode afugentar os sulistas da região.
http://ultimosegundo.ig.com.br
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Com a bandeira do novo país, homem comemora a independência do Sudão do Sul pelas ruas de Juba
Por que a maioria dos cidadãos do sul quer um país independente?
Assim como no restante da África, as fronteiras do Sudão foram desenhadas por potências coloniais pouco preocupadas com as realidades étnicas e culturais da região. Enquanto o Sudão do Sul tem uma paisagem repleta de selvas e pântanos, o norte é mais desértico.
A maioria da população do norte é muçulmana e fala árabe; o sul é composto de vários grupos étnicos, de maioria cristã ou animista. Com o governo centralizado no norte, em Cartum, a população no sul se dizia discriminada e rejeitava tentativas de imposição da lei islâmica no país. Os dois lados lutaram entre si durante a maior parte de sua história.
O que acontece após a independência?
Agora é que começa o trabalho duro. Norte e sul ainda têm de chegar a um acordo em relação a temas como:
- Traçado da nova fronteira e como ela será controlada
- Como dividir a dívida do Sudão e os royalties do petróleo do novo país
- Que moeda será adotada pelo novo país
- Que direitos os sulistas terão no norte, e vice-versa
A verdade nua e crua é: não. Após viver anos em guerra e desdenhado pelo governo central, o novo país - que é maior do que Espanha e Portugal juntos - quase não tem estradas; também faltam escolas e serviços de saúde para a população de cerca de 8 milhões.
Apesar de seu potencial para a agricultura, 95% das receitas do novo país vêm do petróleo. "A vida no Sudão do Sul provavelmente será precária nos anos futuros", disse à BBC o analista especializado em Sudão Douglas Johnson.
Os ex-rebeldes do grupo SPLM, que têm controlado a região desde 2005, ganharam alguma experiência em governabilidade e lucram com os poços de petróleo do sul sudanês. Também elaboraram planos ambiciosos para desenvolver suas cidades e realizaram um concurso para a composição do hino nacional.
Mas críticos dizem que, até agora, o grupo desperdiçou muito desse lucro em gastos militares, e pouco em medidas que aumentem o padrão de vida em uma das regiões mais pobres do mundo.
Também há acusações de corrupção, autocracia e favorecimento tribal. Alguns dizem que o SPLM é dominado por membros do maior grupo étnico do Sudão do Sul, os dinkas, acusados de ignorar as demandas de outras comunidades - em especial da segunda maior etnia da região, os nuer.
Um observador da situação sudanesa disse à BBC, em condição de anonimato, que "não me surpreenderia se o Sudão do Sul se tornasse uma nova Eritreia". Em 1993, os eritreus votaram maciçamente em favor da independência da Etiópia. Atualmente, a Eritreia é considerada uma das nações mais opressivas do continente.
Como Cartum vê a independência do sul?
Nesta sexta-feira, o governo do presidente sudanês, Omar al-Bashir, reconheceu formalmente a independência da parte sul de seu país. Mas, desde o referendo de janeiro, regiões na fronteira entre sul e norte, como Abyei e Kordofan do Sul, têm vivido uma onda de confrontos, levantando temores de uma nova guerra.
Os dois lados assinaram diversos acordos de paz, mas as tensões permanecem. O SPLM acusa o governo sudanês de financiar rebeliões, para desestabilizar o Sudão do Sul, mas Cartum nega as acusações. Ainda que o novo país esteja tentando forjar laços com países como Uganda e Quênia, manter boas relações com o vizinho do norte será crucial.
O que acontecerá com o norte?
A prioridade para Cartum, agora, é tentar manter para si o máximo de lucros originados da produção de petróleo do país. Ao mesmo tempo em que a maioria dos poços fica no Sudão do Sul, o norte tem a maioria dos oleodutos que escoam o combustível para o mar Vermelho. A fronteira entre o sul e o norte, rica em petróleo, ainda não foi demarcada, então existe a possibilidade de que ocorram disputas pelo controle dos poços.
No que diz respeito à vida dos cidadãos comuns, ambos os lados concordaram em permitir que todos os sudaneses - em especial os sulistas radicados em Cartum - escolham qual nacionalidade terão. Mas os planos de Bashir de implementar uma rígida versão da sharia (a lei islâmica) no norte do país pode afugentar os sulistas da região.
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